A benfeitora e a gota d'água

Ligando a televisão, a senhora se deparou com um programa religioso que muito lhe chamou a atenção. O apresentador tocou-lhe a alma e o coração com palavras e orações que não saiam-lhe da cabeça. Procurou conhecer melhor aquele trabalho. Quanto mais conhecia, mais tinha vontade de se envolver . Tornou-se logo contribuinte. É a palavra mais correta para designar aqueles que doam pequenas quantias para ajudar a manter o programa e outras atividades do grupo religioso. Nem ela acreditava que ficaria muito tempo nessa condição, porque até então nunca havia interessado por algo dessa natureza.

Conheceu instituições mantidas pelo grupo que atendiam os mais necessitados. Umas voltadas para os deficientes físicos, outras para dependentes químicos, bem como crianças abandonadas . Olhava para a lista de benfeitores e pensava que o seu ganho era pouco para tornar-se também uma benfeitora para o mesmo grupo. Acreditava que a palavra benfeitora só tinha efeito para candidatos políticos, empresários ricos, enfim cidadãos da alta sociedade.

Sentia-se tão atraída por essa palavra. Sua família não iria concordar com mais essa doação. Eles que, não eram carentes, nem ricos. O povo os denomina de “remediados”. Classe média baixa. Para ela só restava contemplar aquela palavrinha mágica, que quando mencionava junto ao seu grupo de amigos, só ouvia declarações negativas . Alegavam situações de mal uso do dinheiro arrecado pela própria instituição, corrupção realizada por funcionários e até por pessoas do próprio grupo.

A senhora desistia então, triste. Continuou buscando informações sobre o grupo e trocando correspondências com o apresentador e doando para as instituições e manutenção do programa . Ainda não estava satisfeita. Faltava algo.

No seu planejamento futuro pensava em abrir um orfanato, pois estava perto de se aposentar e só tinha duas filhas. Enquanto pesquisava, navegando na internet buscando formas legais para se preparar e verificar se teria condições para esse fim, encontrou um site de uma das instituições do grupo religioso que já ajudava a manter. A palavra que a instigava estava lá nessa página bem legível “ benfeitores da vila”. Analisou bem a situação e percebeu que era mais viável tornar-se benfeitora do que criar o seu orfanato. Enviou um e-mail para a instituição e aguardou, enquanto refletia a própria vida.

Pensava consigo: “ Só eu mesmo para ficar pensando uma coisa dessas.” Seu esposo nem imaginava uma coisa assim. Ele era taxista e ela professora na rede pública de ensino . Só poderia ajudar com muito pouco. Se preparou para receber um “não” da instituição.Mesmo assim foi se preparando. Estaria retirando de suas próprias economias o valor a doar. Abriria mão de gastos desnecessário, mas não supérfluos. Um mês sim, um mês não compraria renew e outros cosméticos.

Lembrou-se de quando era criança e leu uma historinha no seu livro escolar, que contava o encontro de um menino com uma rosa. O menino estava triste porque sentia sede. A rosa afirmou que tinha apenas uma gota de água recolhida do orvalho. Com essa gota passaria o dia, mas teve a maior satisfação em repartir essa gotinha com o menino que se mostrava ,muito necessitado . Avaliando tudo concluiu que era seu dever contribuir mais com os necessitados.

A instituição respondeu ao e-mail informando que qualquer quantia era bem recebida. A senhora ficou cheia de felicidade, como a rosa que ajudou aquele menino. Para ela “aquele menino estava refletido naquele religioso que todo dia estava apresentando novena na televisão, e sedento convidava outras rosas para doar um pouquinho de sua gota de água guardada , recolhida do orvalho da noite anterior.

Lindalva
Enviado por Lindalva em 17/10/2013
Reeditado em 27/05/2014
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