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NASCE BENJAMIN
 
               Era inverno chuvoso. Levy  levantou de madrugada pegou a parelha de cavalos e arrumou a carroça com a tolda. Tomou um café reforçado com virado de feijão e carne de cordeiro. Chamou os filhos, leram a Bíblia Sagrada e fizeram uma prece. Convidou um dos meninos para ir de sua companhia. Estava para nascer o décimo filho do patriarca com a senhora Lina.  Foi até  Saudades buscar a dona Maria, parteira conhecida na região.
                 - Benjamin vai ser o nome, se for *piá. Se for menina... - Disse o pai todo faceiro.
              - Rute, se for menina. – Disse Lina enquanto areava uma chaleira de ferro.
              - Vamos Ozias – Tu que vai comigo. Pegue tuas coisas e as coloque no carro.
               - Sim papai. Estou indo.
        Saíram de carroça toldada. Sumiram pelas coxilhas. Passaram pelo povoado de Saudades e andaram mais duas léguas pelas terras de culturas. Levy torcia que a velha parteira não estivesse ocupada trazendo à luz mais algum vivente. Enfim, chegaram até o lugar do destino.
               “Plac, plac, plac, plac....  plac,  plac, plac..." – Bateram palmas.
              Um cachorro galgo os recebeu com seus... mais grunidos do que latidos. De repente surgiu a velha dona Maria. Era conhecida  porque pelo menos oito filhos do Sr. Levy esta ajudou a trazer para luz.
             - Boa tarde dona Maria.
            - Boa tarde seu Levy.. Não vai me dizer que... – Respondeu com uma cuia de chimarrão na mão.
          - Isso mesmo, senhora. Mais um, mas é só mais um.  - Falou o homem todo tímido.
           - O senhor também não perde tempo, né. Nas outras vezes disse a mesma coisa. Não consegue ficar sem, né...
        O homem deu apenas uma risadinha com vergonha e abraçou o filho Ozias.
              No dia seguinte saíram de carroça: Levy, Ozias e a bondosa senhora. Viajaram o dia todo abaixo de chuva. O vau do Rio Tigre tiveram dificuldades pra passar porque o nível das águas estava acima do normal. Chegaram de noite em casa.
              As quarenta galinhas estavam fechadas prontas para o abate. Uma por dia durante a quarentena para sopa ou canja pra mãe.
                 Dali a três dias a Sra. Lina começou a sentir as dores do parto. Logo cedo a parteira mandou que os filhos e o pai se retirassem, porque o bebê iria nascer. Assim sucedeu. Dali a poucas horas os outros filhos do casal já estavam com um novo irmão. Benjamin, o nome escolhido. O décimo filho, mas o nono vivo. O irmão Jacob que era um irmão do meio na ordem decrescente, o sexto ou sétimo, esse faleceu de meningite.  O pequeno Ben, o caçula da família. Ali começava uma nova etapa da vida. O *guri teria um destino diferente dos demais. No dia do seu nascimento, como era de costume quando nascia um filho varão, o pai pegou a espingarda, saiu próxima da velha casa e atirou pra cima em comemoração. Mais um homem na família. Qual seria o futuro do herdeiro?
       Ben foi crescendo com a saúde bastante frágil. Tinha convulsões. Um homem que dava remédio caseiro o curou. Nunca mais aconteceu. Foi crescendo num ambiente pobre. Além da família não ter recursos financeiros era negativa na maneira de pensar. Sempre afirmavam que eram muito pobres e que determinadas coisas eram para pessoas ricas e nunca pra eles. O menino ouvia tudo e assimilava como verdade. Só mais tarde que aprendeu como encarar as situações e substituir aquele pensamento mesquinho por um positivo e que daria resultados bons. Com o tempo superou tudo dando lições de vida pra muita gente... e continuou...
 
(Christiano Nunes)
 
PS.  *Menino no Sul do Brasil.