LIDAR COM O FIM
Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te.
William Shakespeare

          -É vermelha? - disse Rodrigo ajustando o vestido da mulher.
          -Não, não achei vermelho, quando entramos na casa pensei que fosse, acho que é azul, ela não gosta de vermelho – disse virando-se para ele.          
           Rodrigo sabia que a sua mulher tinha um sabor diferente, era o seu amor, o seu tormento e a sua dor, talvez fosse amor grande demais para ele carregar, o casamento já estava consumado, Amélia a filhinha de três anos andava pela casa, tudo parecia resolvido.
          Ele sentou no sofá, não queria ir a festa e beber novamente, ou não beber e ver todos ficarem bêbados menos ele, será que ninguém entendia o que ele desejava, precisava relaxar ....
          Ela sentou perto dele, o machucado no braço dela ainda estava lá visível, como uma marca escarlate, culpa dele, desorientado, empurrou a mulher em uma briga, a criança viu.
          -Ficou roxo – disse colocando a mão de leve no lugar.
          -É por dentro fiquei pior, não me empurra mais, principalmente na frente dela – ela olhou para o homem que amava e colocou as mãos na sua perna, estava tremendo e ele notou.
          -O que você têm? Achei que tinha me perdoado? - Rodrigo segurou a mão dela e deu um beijo, apesar de sair da linha amava Laura mais que tudo.
          -Você fica tão bem assim, o problema é quando usa a porcaria – ela disse e depois completou – queria que entendesse que não suporto mais essa vida desse jeito, você sozinho não consegue sair, está preso em tudo isso, você começou quando ainda era criança.
          -Eu consigo – disse e levantou da cadeira – Laura, estou me esforçando, você me pressiona demais.
          -Fumando todo dia maconha? Depois que beber, junta com os seus amigos e usa crack?- ela falou e levou a mão a cabeça.
          -Fala mais alto, você quer que nossa filha escute – ele gritou.
          -Sabe o que é pior, ela sabe, tenho certeza que ela sabe, tão esperta e louca pelo pai - ela limpou as lágrimas, queria ser forte. - Acabou Rodrigo. Tudo tem um fim, já perdoei tantas vezes, eu sou sua mulher não a sua mãe e ela nem quer mais saber de nada, não o quero perto da nossa filha.
          Ele ficou mudo, andou de um lado para o outro, passou para a cozinha, estava muito nervoso, ficou perto dela e gritando disse.
          -A filha também é minha! Entendeu? - A expressão facial de Rodrigo mudou, não era mais o funcionário padrão de uma loja de carros, um mecânico tão bom que o patrão pagou a primeira clínica de recuperação, amigos, vizinho, ele ajudava muita gente, corria para levar a vizinha paralitica ao médico, até os policiais gostavam dele.
          -Sai da minha casa - disse Laura.
          -Como?
          -Sai da minha casa –  Laura gritou, ele deu as costas e começou a sair, abriu a porta e partiu, ela caiu no sofá, lembrou da criança dormindo no chão do quarto e deu graças a Deus por ela não ter acordado, respirou fundo.
          “Espero que tudo tenha acabado, que esse homem nunca mais apareça aqui”, pensou.
          Porém ele voltou minutos depois e carregava um revólver na mão, parou diante dela e nada disse, atirou três vezes na mulher que supostamente amava e uma vez na própria cabeça, quando os avós chegaram a menina de três anos chorava e tentava acordar a mãe e o pai da morte trágica.
 
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 08/11/2013
Reeditado em 08/11/2013
Código do texto: T4562420
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