Momento de terapia

Momento de terapia

Eram aproximadamente onze horas da manhã e eu estava atrasado para uma reunião no trabalho, mas a reunião não era de trabalho. Não queiram, leitores, saber quem sou ou qual era o motivo da reunião. Nomes e motivos nem sempre são importantes, pois tendem a conduzir os desa-tentos a comparações e julgamentos desnecessários. Acompanhemos, portanto, a história sem preocupação com a lógica narrativa.

Cheguei mesmo atrasado à reunião e pude perceber que quase todos os presentes moravam na mesma cidade. Pareceu-me, a princípio, tratar-se de uma terapia de grupo. Quem sabe seja bom! Afinal, a vida anda tão agitada, corrida e as pessoas precisam, muitas vezes, de um tempo para falar de si, dos outros, da vida, de tudo um pouco.

Bem, conhecerão vocês, leitores, agora, algumas das histórias relatadas nesse dia. A ordem apresentada não é necessariamente a ordem dos fatos.

Primeiro vamos aos que falaram da cidade. Querem saber qual cidade? Não importa, pois pode ser qualquer uma e, quem sabe, até mesmo o país. Alguém falou:

– Quando caminho pelas ruas da cidade, olho em volta e observo que nada muda. Tive então a certeza de que só nós mudamos. Todos os dias e a cada dia somos pessoas diferentes, pois enfrentamos situações diversas e é isso que faz a diferença entre as pessoas.

É! As diferenças nos tornam iguais.

Outra pessoa que conhecia bem a cidade emendou:

– Nesta cidade a gente passa, a gente olha, a gente sente que as pessoas estão cada vez mais distantes umas das outras e percebo que elas precisam ser ouvidas, compreendidas, orientadas e amadas. Infelizmente, a desculpa é sempre a mesma: a medonha falta de tempo. Mas será que não vale a pena rever nossos valores e prioridades e assim tentar descobrir o que realmente é importante?

Excelente fala! Porém, não existe falta de tempo. O tempo é divino, infinito; portanto, não pode faltar. O que falta é a humildade de querer apenas o que se pode abraçar e não querer vencer antes de competir.

Na onda do tempo, ou da falta dele, alguém continuou:

– Se o tempo voltasse atrás eu gostaria de poder falar mais, de conversar com minha mãe, sentir o seu perfume, cair em seus braços. Gostaria de viajar com ela, sei lá, viver um tempo bom com a minha mãe.

Carpe diem! Foi do que me lembrei. A fugacidade do tempo é cruel e inevitável. Aproveitemos o presente.

Ainda no tempo, alguém se lembrou do passado e de dias felizes:

– Dias passados não podem ser revividos, contudo, dias felizes são aqueles em que eu acordo e me lembro dos meus dias de faculdade. Éramos uma turma muito entrosada e fazíamos das aulas de campo uma grande diversão. Nesses dias eu penso que valeu a pena!

Lembrei-me do Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena / se a alma não é pequena.”

Foi nesse exato momento que a felicidade se apresentou, dando o seu ar da graça. O próximo depoente assim falou:

– Eu me sinto completamente feliz quando percebo que meus passos estão no caminho certo e que meu coração está em paz. Acredito que ser feliz é muito pessoal e a minha felicidade é fazer parte das coisas boas.

O seguinte nem esperou:

– A minha felicidade eu gostaria de dividir com pessoas especiais, que convivem ao meu lado neste mundo tenebroso.

Pior que é verdade! O mundo é de fato tenebroso, todavia, ainda bem que existem pessoas especiais que nos permitem fazer parte das coisas boas e assim suportar e superar os obstáculos deste “mundo tenebroso”.

Após reflexões tão profundas, os depoimentos rumaram para o cotidiano e para o íntimo dos que ali estavam. Surgiu, então, o cansaço:

– Quando eu estou cansado e quero sair da rotina, eu busco fazer coisas agradáveis e re-laxantes. Gosto de sair da realidade, de me sentir bem, sem pensar nos problemas. É nessa hora que mergulho nos meus livros de mitologia ou assisto meus seriados. Isso me tira da realidade e me faz bem.

Alguém foi bem mais direto:

– Depois de um dia cansativo, eu gosto de chegar em casa, tomar um belo banho, ouvir uma boa música para poder relaxar a mente, o corpo e o coração.

Meu Deus! Como as coisas simples fazem bem e não recebem a devida atenção.

Na sequência, uma pessoa bem realista falou:

– É muito difícil nos dias de hoje, conviver e assistir a tantos atos de imprudência e violência que estão chegando até nós, marcando e machucando a nossa vida.

Ainda bem que há os que acreditam nos sonhos. Apesar de dura, a vida sem sonhos se-ria, digamos, impraticável. Um sonhador de pé no chão rebateu:

– O meu maior sonho é que haja pessoas tolerantes, generosas, cheias de amor e paciência. Dessa forma, teremos um futuro menos violento para que Deus possa chegar em todos os corações.

Junto com Deus veio a paz de forma alegre e espontânea:

– Quando estou em paz comigo mesmo (e sou uma pessoa de paz) gosto de orar, passear, rir, dormir, comer, namorar e dançar. Calma! Estar em paz nem sempre significa estar em silêncio e imóvel. Eu sou afinal, uma pessoa agitada e em paz.

No final veio o depoimento com cara de ficção:

– Quando eu cheguei a esta sala, o detalhe que mais me chamou a atenção foi o silêncio explodindo no ar e as faces das pessoas espantadas por algum motivo que permanecia suspenso neste ambiente misterioso.

As palavras pareceram um tanto quanto desconexas com as anteriores, mas quem há de negar que o silêncio carrega em si uma força descomunal? Quem há de negar que a vida, onde quer que esteja, é um mistério indecifrável à pequenez da inteligência humana?

Finalmente, se ainda querem respostas, busquem-nas no recôndito mais escondido de si mesmo.

Cícero Carlos Lopes (org.) – 08-11-2013

(Texto feito a partir de uma dinâmica de escrita realizada durante o ATPC da turma da manhã, sexta-feira, dia 08 de novembro de 2013, da E.E. Professor Olzanetti Gomes. Desta dinâmica, participaram 12 professores presentes no dia. O texto é uma organização das frases criadas por cada um.)

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 10/11/2013
Código do texto: T4565021
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