Edifício "69"....

Edifício “69”

(conto)

Aventuras de um mocinho do interior...

Lá pelos idos de 1974, na capital de S Paulo, no centro velho havia o edifício “69”, um prédio com 19 andares onde funcionava o “vai quem quer”, ou zona de baixo meretrício, ”treme-treme” para alguns, ou em bom nordestinês “casa da luz vermelha”. Durante muitos anos aquele edifício ficou conhecido em todo Brasil, e por quê não, até lá fora também. Lá acontecia muitas e muitas aventuras e “historias” de amores, desamores ou dissabores.

O 69 era o Play grownd, o Paraíso dos rapazes inocentes ou não, e até dos respeitáveis porém, mal amados senhores. S Paulo a essa época recebia muitos migrantes vindos de todas as partes do Brasil, incluindo aí muitos nordestinos. Normalmente os mocinhos ingênuos do interior ficavam ouriçados ouvindo as “histórias” dos colegas e ou parentes que já freqüentavam ou conheciam aquele lugar em busca de “amor” ou prazer carnal.

Naquele lugar mocinhos inexperientes aprendiam a arte do sexo e do “amor”, aprendiam deixar para trás sua “inocência”, ou virgindade, enfronhando-se e desfrutando os gozos do “amor”.

Existia uma cultura de ir ao 69 todo final de mês, após receber o pagamento do mês trabalhado ou até no máximo dia 05 em busca do prazer. Lá encontravam se também alguns senhores casados em meio aos rapazes buscando amores fugazes.

Entre aqueles que vinham do Nordeste havia Talmiro que à época tinha 24 anos, porém um jovem ainda em situação de virgindade. Seus primos o levaram para conhecer o “69”, ele ficou deslumbrado com aquele lugar. Em sua pureza não sabia que ali era apenas um lugar onde aquelas mulheres eram profissionais do sexo, ou se quer ele sabia o significado de sexo.

Talmiro logo conheceu Valdelice, uma ”moça” do interior do Paraná, e logo ficou freguês. Fez uma amizade especial com a referida moça, e ia lá até duas vezes por semana mesmo fora de dias de pagamento. Então quando percebeu já estava apaixonado por Valdelice, porém em sua ingenuidade quando tentava beijá-la a moça se esquivava alegando que naquela profissão as mulheres não podem beijar os fregueses na boca. Ele ficava ainda mais apaixonado.

Passou-se o tempo, já havia passado um ano e meio e ele tornou-se um freguês especial com direito a dia e horário reservado. Ele a presenteava, ora em seu aniversário, ora no Natal ou no dia dos namorados. Um desses presentes foi um frasco de perfume em forma de um (telefone), o qual ele o ofertou lhe com muito carinho.

Um dia ao regressar lá soube que Valdelice havia ido embora sem deixar pista para onde foi. Ele ficou desolado, sua primeira atitude foi perder o interesse pelo trabalho que era seu ganha-pão. Ficou desnorteado, chorava, perdeu o apetite para se alimentar e o gosto pela vida. Voltou ao 69 outras vezes, para saber notícias dela, ou tentar encontrar em outras mulheres o amor e afeto de Valdelice, porém foi em vão, seu coração ficou com a amada Valdelice.

Talmiro sofreu muito, mas passou-se o tempo e os dois não mais encontraram se. Ela sumiu sem deixar vestígios, nem ao menos um recado com suas colegas de profissão. Depois de algum tempo, seis anos talvez Talmiro casou-se, ia levando uma vida pacata com sua mulher e dois filhos. Já transcorridos onze anos. Um dia em uma manhã de domingo bateram palmas ao portão, Talmiro atendeu, era uma senhora que solicitava permissão para falar com alguém. Sem saber de quem ou do que tratava-se ele soube com muita surpresa que a mesma era Valdelice, já um pouco mais idosa, e bem diferente. Vendo-a ele recordou aquele amor de alguns anos atrás, que não esperava encontrar jamais.

Seus olhos lacrimejaram, porém manteve-se firme. O mesmo indagou-a como soube dele e como encontrou seu endereço e o mais intrigante, por quê procurá-lo após quase 18 anos. Ela disse-lhe há tempos desejava ter esse encontro, e que foi muito difícil encontrá-lo, havia batido em diversas portas em seus antigos endereços na vila onde ele residiu. Disse ela que o havia procurado para que ele conhecesse seu filho que era um rapaz com 17 anos e sonhava conhecer o pai. A esposa de Talmiro teve uma crise nervosa, caiu em pranto e teve que ser atendida em um posto médico depois de ser amparada pela vizinha.

Ele recusava-se acreditar e questionando-a pediu que a mesma fornecesse alguma prova de que estava falando a verdade. Para sua surpresa ela abriu uma bolsa de onde retirou um embrulho, que logo foi revelado, era uma caixa que aberta foi retirado um frasco de perfume em formato de telefone, estava ainda com uma sobra do conteúdo. Porém o mais surpreendente veio a seguir, Valdelice mostrou-lhe um bilhete que ele havia escrito e lhe dado como presente de aniversário, junto ao perfume, com uma dedicatória de amor, e o antigo endereço dele.

Custando acreditar, mas já caindo em si, ele perguntou pelo menino, então ela mostrou-lhe duas fotos, uma do Talmiro jr, já com um aninho e outra de um belo rapaz de 17 anos. O pai chorou e disse aceitar aquela situação embaraçosa, que apesar de tudo trouxe-lhe uma grande alegria junto a alguns problemas a serem resolvidos.

Um pouco mais calma Valdelice explicou-lhe que na época, ao descobrir a gravidez, sua atitude foi de ir embora para ter aquela criança em um ambiente digno, e que junto a seus pais teria os cuidados de sua mãe, assim teria conforto para dar amor e carinho ao bebê. Diana, a atual esposa de Talmiro, vendo a foto do rapaz, e o nome que era o mesmo do pai, e a semelhança ao mesmo, não teve dúvidas, aceitou o fato como uma realidade concreta, nada mais! Quanto ao“69” no centro velho da capital paulista, foi cenário dessa e de muitas outras “histórias”.. Não sei se ainda hoje ele é palco de enredos assim...

Este texto está registrado no Escritório de Direitos Autorais sob o nº 618-350 Livro 1-186 Folha 234 Em 14/10/2013 RJ.

Arnaldo Leodegário Pereira.

Arnaldo Leodegário
Enviado por Arnaldo Leodegário em 25/11/2013
Código do texto: T4586731
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