Ajudando quem precisa

Todos os dias temos nossos momentos de relaxamento, apesar de que quem tem Stélinha de amor não passa um instante sequer sem pensar em trabalho, ela é incansável, não para sequer um minuto. Nos amamos há muitos anos, mais de trinta e poucos, Stélinha é uma dádiva de Deus em minha vida, alguns falam que tive sorte no amor, respondo que na verdade eu sabia o que estava fazendo quando decidi casar depois de Stélinha me expremer até o caroço, ela faz cara de poucos amigos quando falo isso e diz: seu mentiroso; mas valeu a pena cada minuto de vida que passamos juntos, não há sossego só emoção.

Nos primeiros anos de nossa convivência eu até fazia algumas coisas em casa, meio pressionado pelo vai e vem de Stélinha, depois a pressão foi passando pois percebi que aquilo era dela, continuo fazendo muitas coisas sem ela me pedir, e muitas outras coisas porque Stélinha é minha chefa, ela distribui serviços e responsabilidades para todos aqui em casa, mas como bom marido folgadão, uni o útil ao agradável, tem que respeitar o jeito da madeira, Stélinha é um moto-perpétuo, a energia nunca acaba, ela é capaz de movimentar o universo com seu caminhar incessante, o tempo todo mandando com carinho e amor.

O telefone tocou e Stélinha já foi logo pegando e falando alô, do outro lado alguém falava inglês e Stélinha já foi entrando no clima, mudando de português para inglês em alguns micro segundos, já estava rindo e conversando com o interlocutor, parecia gente conhecida, fiquei ali, tentando entender o teor da conversa, já que sou uma lástima no idioma, mas depois de algum tempo compreendi que era um conhecido nosso, professor de lingua inglesa nativo que lecionava inglês avançado na Cultura Inglesa. Stélinha foi do riso ao choro, parecia que havia algum problema com a pessoa e com certeza Stélinha que adora ajudar o próximo não iria se furtar de estender as mãos aos necessitados, Stélinha não mede esforços, eu só fico ali obedecendo, pois sou seu fiel escudeiro, onde Stélinha vai vou também, se ela vai pular num buraco, pulo na frente para que ela caia sobre mim e não se machuque. Olhei aquela salada inglesa de conversação emocionada e já comecei a calçar os sapatos, tinha acabado de colocar meus pés para respirar um ar fresco e desinchar e já ía afogá-los outra vez.

Stélinha desligou e disse: Fulano terminou o namoro com sicrano e teve que sair de casa, está numa casa lá naquele lugar tal e está precisando de uma força. Já fiquei em posição de sentido esperando uma nova ordem da minha comandante em-chefe que não demorou, vamos lá ajudar ele.

Stélinha me falou, vamos lá na rua Bela número 180 em tal lugar. Chegamos atrasados quinze minutos, Stélinha já estava brava, pois já tinha começado a funcionar no fuso horário inglês, ou seja, pontualidade é fundamental quando se trata de lidar com nativos do Reino Unido. Paramos em frente a casa e parecia que não tinha ninguém por lá. Stélinha pegou o celular e já foi ligando pro amigo que disse pra ela que como bom Inglês já estava aguardando em frente a casa da Rua Bela Vista número 180, estávamos no endereço errado.

Sorry fulano sorry ciclano, Stélinha não parava de rir e se desculpar, fomos para o endereço errado do outro lado da cidade, tínhamos que ir na Rua Bela Vista. Lá fomos nós rindo e convesando sobre a pontualidade inglesa e seus percalços, Stélinha o tempo todo, vira aqui, vira ali, as vezes acho que ela pensa que não tenho cérebro, mas é o jeito gostoso de ela pensar que manda em mim e de eu fingir que obedeço, o final sempre acaba em beijo e muitas risadas.

Chegamos à Rua Bela Vista, 180 e nosso amigo Inglês estava lá, rindo também do nosso tour pela cidade, depois dos "how are you" "fine, tanks" e demais cumprimentos e "sorry" desculpas, nosso amigo explicou a Stélinha tudo em inglês, e eu ali aparvalhado tentando pescar alguma coisa naque diálogo incompreensível e pensando: Se eles rirem vou rir também, o que fizerem, faço também, para fazer a vez de que estou entendendo tudo, só não falo a lingua deles. Vez ou outra Stélinha pergunta pra mim: Entendeu amor? Eu só balançava a cabeça nem afirmando nem negando, sei lá, mais ou menos. Dá uma baita raiva na gente de não falar inglês, uma das linguas mais faladas no mundo, sempre que tive oportunidade de aprender, saí pela tangente.

Fomos a um restaurante popular da cidade para conversar e saber dos detalhes da necessidade do nosso considerado, sentamos e pedi um cardápio enquanto Stélinha ía perguntando e apurando mais detalhes do problema que ele queria que o ajudássemos.

Perguntei se queriam beber cerveja, ok disse ele. Pedi duas pinguinhas daquela batizada no barril de carvalho, cheirosa que só ela e uma porção de panceta (torresmo) e mandioca frita, mandei descer uma Original gelada. Daí a pouco chegou a cachacinha com um palito e uma azeitona, ele já foi refugando a cachaça, acho que ele se lembrou de um Natal que ele passou em casa que precisei levar ele pra casa com as pernas trançando, Stélinha já foi falando: Deixa essa pra mim. Essa minha companheira é fora de série, família que bebe unida permanece unida, Stélinha já deu uma pequena talagada e acompanhei, o Inglês rindo da nossa parceria, eita pinguinha boa.

Stélinha me fez lembrar de quando comprei um barril de carvalho e enchi de cachaça, cinco litros da malvada. Temos um lugar com balcão e churrasqueira e colocamos o barril bem na entrada desse recanto especial. Uma semana depois eu quis tomar uma e o barril não estava ali na entrada, perguntei a Stélinha e ela me falou, olha lá! do lado da churrasqueira, lá estava o barril. Perguntei porque ela tinha tirado o barril ali da entrada e ela me falou que toda hora que passava ali para ajeitar a cozinha olhava pro barril e tinha vontade de tomar uma. Rimos bastante disso. Chegamos a conclusão que cachaça de barril é uma tentação.

Bom! o torresmo chegou. Uma verdadeira delícia, mudamos de assunto para saborear aquela iguaria que muita gente condena mas não suporta a vontade de comer bebericando uma bela Original estupidamente gelada. O assunto já estava meio resolvido e tiramos o resto do tempo para rir, com o gringo contando histórias e Stélinha traduzindo para o primeiro imediato.

Resumindo, nosso amigo precisava alugar uma casa na cidade e não fala muito bem o português e precisava de alguém que o ajudasse, inclusive com a parte documental que ele não entendia muito bem. A segunda parte dessa história ainda vou contar pra vocês, que foi quando fomos buscá-lo em sua casa, rodamos a cidade atrás de imobiliária culminando com ir buscar dois animais de estimação dele no canil. Até logo mais.