ESTRAGANDO O CAFÉ E GANHANDO A VIDA

Beirava as nove horas, o restaurante do hotel estava deserto, a porta é aberta e entra um quarentão apressadamente, paletó aberto e a gravata esvoaçante, joga a pasta sobre a cadeira e começa a servir-se, primeiro um pãozinho de 60 g, uma fatia pequena de mamão e um copo transparente pela metade de iogurte, dá mais uma olhada e retorna à mesa, de lá chama o garçom e pede uma tigelinha de margarina, que esteja na temperatura ambiente, o garçom argumenta que só a manteiga, aquelas de bolinhas que ficam numa tigela em água gelada, e se prontifica a servir-lhe algumas, não, não responde o hospede, quero é margarina. Alguns minutos vem o garçom trazendo a tal margarina, um pedaço de cinco centímetros quadrados, o pão já estava cortado em dez fatias, então a primeira fatia recebe uma lamina de margarina e calmamente é mastigada.

Pronto o relógio bate nove horas, quem estava no restaurante, estava, quem dormira demais perdera o café, nisto chega uma mulher arrastando pela mão um garotinho entre oito e dez anos, despenteado e de olhos inchados, certamente desembarcará direto da cama no restaurante. O garçom faz vistas grossas e eles entram instalando-se à mesa contigua ao do quarentão, que mistura as fatias de pão com a leitura do jornal matinal. Sobre os óculos ele observa a guerra que mão e filho travam, ele enche o prato de guloseimas e ela tira, ela oferece frutas e ele quer frituras. Ele já ostentando uma barriguinha e pescoço roliço, não quer nem saber vai metendo as mão e agarrando o que pode, a mesa parece um canto do cruzeiro, cheio de oferendas. Ela manda, come isto, come aquilo, que nada, a guerra esta estressante para qualquer vivente que desejar ler o jornal. Aos poucos os dois acalmam-se, o garoto todo lambuzado, agora investe contra o pobre leitor e lasca de uma indagação à mãe perguntando o motivo do homem estar comendo tão vagarosamente e somente fatias de pão, com iogurte e um pedaço de fruta, a resposta dela é um sermão, que o garoto nem liga e continua na briga sem fim pelas guloseimas. O Homem dá um sorriso e diz: - senhora, senhora, posso responder? - ela concorda e resposta vem em poucos palavras, resposta que ela não gostou, dizendo que ele estragara o café. Também o atrevido disse que as porções eram as necessária às pessoas normais o resto era excesso. Apanhando o jornal e a pasta vai embora, no caminho entre a mesa e a porta dá uma olhada e complementa: - quando na idade dele eu também comia tudo que era porcaria -apimentando mais um pouco complementa: é melhor estragar um café e ganhar a vida.

Do Livro: A força de cada um

20143 - 2014

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 27/12/2013
Reeditado em 12/01/2014
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