Pescadores de Peixinhos

Em uma esquina da rua principal de algum bairro de Francisco Morato, estão Danilo e Bruno, conversando sobre diversos assuntos, entre eles: MMA, música e o filme do Tarantino “Django”.

Meia hora de conversa chega o Frank e na sequência Michel com balinhas que a embalagem tem um desenho de um índio.

Era quase meia noite, o Pi vem chegando do curso do Senac.

Eles começaram a falar de pessoas que pensam que são além do que realmente são. De pessoas arrogantes, que negam a sua origem e voltam ao que realmente são depois de uma paulada da vida.

Nisso Michel solta uma analogia: “quem nasceu para ser girino jamais será peixinho”.

Todos ficaram impressionados, pois aquilo trazia lembranças maravilhosas.

De uma forma nostálgica e necessária voltarei anos atrás para dar o contexto de onde surgiu essa analogia.

Alguns anos atrás, digo décadas, a rua hoje repleta de casas e alguns sobrados, na época eram unidades, umas distantes da outra.

A bica saciava a sede após um futebol no terrão. E todo sujo de barro vermelho os meninos tomavam banho de canequinha na bacia de alumínio.

Esses mesmos meninos viviam dia inteiro com a cara para o alto, correndo pelo os matos, brincando de guerra de mamonas e comendo coquinho.

A rua de terra a cada chuva abria diversos buracos e dificultava o acesso até de pedestres. A prefeitura, depois de muito custo, mandava passar o trator, e teve terrenos que com o tempo ficou mais de 2 metros acima da rua, de tanto o trator passar no decorrer dos anos.

Os pés sempre descalços, e em época de chuva, deslizar pela lama era uma baita de diversão.

A noite demorava a chegar, o barulho de sapo era a canção noturna e caçar vagalumes era umas das atividades mais preciosas e mágicas.

No fundo da casa do Zé da Vaca passava uma pequena correnteza de água, que passava também no final da rua da esquina onde eles estão parados agora.

Nessa pequena correnteza, que para época era um grande rio devido a imaginação infantil, eles viviam pegando peixinhos com garrafas pet cortadas no meio.

Com a felicidade estampada nos rostos, corriam com aqueles peixinhos para casa, com a intenção de cria-los.

Deixavam na garrafa pet mesmo, mas alguns meninos afortunados levavam para seu aquário.

Passavam-se dias e os peixinhos morriam. Os meninos não entendiam e a tristeza os assolava.

O Tempo passou e hoje a rua que era de barro é de asfalto, no começo da rua os meninos pescadores de peixinhos já são homens.

Para surpresa de alguns deles, aqueles peixinhos eram girinos, só hoje entenderam o motivo que eles não se criavam.

Danilo Góes
Enviado por Danilo Góes em 08/01/2014
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