Minha luz

- Ei, o que você tem? – perguntei, ao vê-lo sentado ao pé da cama, com a cabeça baixa.

- Estou cansado. Bem cansado. – ele disse, desanimado.

Sentei ao lado dele, tentando conter minha alegria perto de seu abatimento.

- Calma, está vindo um novo ano aí! Falta pouco! – disse.

Ele me olhou, com cara de poucos amigos.

- Nossa, como se isso mudasse muita coisa.

- Claro que vai mudar! Ano novo, vida nova! – eu disse, sorrindo, tentando animá-lo.

- Para você, só se for. Para mim, todo ano é a mesma coisa. Em 2012, você jurou para mim à meia-noite que seria diferente e não foi, assim como em 2011, 2010…

- Ah, para! Dois mil e doze foi diferente sim. Lembra daquela decisão difícil que eu tomei? – perguntei.

- Uhum. – ele murmurou.

- Então?

- Então o quê? – ele replicou, carrancudo.

- Ai, credo! Você está de ovo virado hoje? – ironizei.

- Eu também tenho direito de ficar de mau humor, assim como você fica quando acorda, dia após dia. – ele retrucou.

- Ok, reconheço. Você está certo. Mas prometo que em dois mil e catorze não teremos problemas como tivemos em dois mil e sete, está bem? – disse, tentando deixa-lo mais aliviado.

- Ai, não, nem me lembre desse ano! Foi um ano do cão! Fiquei até preocupado agora, sabe como é, crise dos sete. Conhece? – ele perguntou, com um meio sorriso.

- Claro que conheço. Aliás, conhecemos, já que o ano dois mil não foi tão legal também. – lembrei e ele fechou os olhos, tentando lembrar.

- Nossa, estamos a todo esse tempo juntos, não é? – ele sorriu.

- Uma vida inteira. – eu disse de volta, sorrindo.

Um breve silêncio se instalou entre nós dois, mas eu não sairia do seu lado enquanto ele não se sentisse melhor. Era o mínimo que eu poderia fazer, depois de tudo.

- Eu tenho o pior trabalho do mundo. – ele disse, soltando um suspiro.

- Ah, não fale assim. Seu trabalho ajuda muitas pessoas. – consolei.

- É fácil quando as pessoas querem ser ajudadas. Vira um problema quando elas não aceitam. – ele disse, ainda desanimado.

Por um momento, fiquei olhando para ele, lembrando de tudo que passamos juntos, de todas as nossas felicidades e todas as dificuldades que nos fizeram crescer, principalmente a mim. Como eu era grata em tê-lo na minha vida, além de tudo, era meu maior amigo.

- Você promete que o próximo ano será diferente para gente? – ele perguntou, olhando-me nos olhos.

- Prometo sim. Não farei nada que possa me prejudicar. – respondi, beijando os dedos cruzados.

- Cometer erros você vai, e muitos. Vai se apaixonar por quem não merece, vai choramingar a amizade desfeita, o arrependimento por ter saído do emprego, vai lamentar o corpo que não está legal e toda essa ladainha que eu já estou cansado de saber. É normal. Mas eu te peço: tenha mais cautela com seu coração. Eu estarei ao seu lado, como sempre estive, mas alguns passos você tem de dar sozinha, com as coisas que aprendeu. Você me deu uma canseira esse ano, mulher! – disse ele, irritado.

- Ei! Não me chame de “mulher”! – exclamei, brava.

- Ué, e você é o quê? Virou homem e eu não percebi? – ele sorriu.

- Você sabe que eu detesto que me chamem de mulher! Eu tenho nome! Você é meu anjo da guarda e nem por isso deixo de chama-lo pelo seu nome, Mebaiah. – disse, cobrando.

- Está bem, Aryane. Vamos parar com esse drama. São duas da manhã. Deite logo nessa cama e durma. – ele pediu.

- Você está bem? – perguntei.

- Para eu ficar bem, você tem que estar bem primeiro. Agora durma. Boa noite. – ele se despediu.

- Boa noite. – respondi, bocejando.

ARYANE SILVA
Enviado por ARYANE SILVA em 25/01/2014
Código do texto: T4664135
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