Um ponto ínfimo no universo.

Minha mãe disse que sentia-se como uma bolha minúscula vagando pelo universo, uma bolha insignificante e sem rumo, uma ínfima bolha perdida prestes a estourar e a desaparecer - e sem ninguém dar-se conta disso.

Seus olhos brilhavam úmidos, exatamente como uma bolha de sabão, e fitavam a parede branca da nossa sala de estar, a sua mente não estava ali, sua presença era apenas uma casca triste e cansada, boca crispada e dedos imóveis repousavam sobre o caderno de finanças.

Eu sempre soube que mamãe sentia-se dessa maneira, principalmente quando ela chegava em casa e deitava na cama bagunçada e dormia por horas a fio.

Minha mãe sabe que eu me sinto da mesma maneira. Nós duas somos um par de bolhas coladas uma a outra, pequenas e ridículas. Se ela estourar, eu também deixo de existir.