O Inferno de Roque Cú de Ouro

Roque Cú de Ouro descia a ladeira pensando na sua vendeta que teria que acontecer a qualquer hora com Boca de Fogo. Primeiro já tinha aturado o apelido que o filho da mãe tinha-lhe posto. Tornou-se objeto de sarcasmo de toda comunidade da Rua das Ganhadeiras. Agora o filho da mãe vinha espalhando pela cidade que Roque, malandro de boa cepa, vindo de uma noitada no puteiro da Rua da Linha onde ficava a melhor casa “ O Respeito”, tinha encontrado a mulher na cama com Pato Rouco, seu melhor amigo e irmão. Não que o fato não tivesse acontecido, já que Pato Rouco dormia com o badalo caído do lado fora da braguilha. Porém sabia que por qualquer motivo, o amigo devia ter se excedido na bebida e deitado numa eventual visita na cama da Santinha. Ela dormia no sofá da sala só de calcinha. Coisa normal ela dormir assim. Tinha certeza que o amigo não tinha comido a Santinha.

- E aê Roque? Comeu ou não comeu?- Inquiriu Boca de Fogo passando ao largo de bicicleta e explodindo em gargalhadas tirando fiapo da cara do Roque.

Boca de Fogo insistia na desmoralização por raiva, já que tinha perdido seu galo de estimação na rinha de briga de galo para o raçudo Pega Na Fulô. Galo bom de briga, que não corria de galo nenhum e agüentava pau por horas a fios. Que saudades daquele galinho!

Assim seguia Roque Cú de Ouro pensando e caminhando em direção à delegacia para registrar uma queixa antes da vendeta que estava por vir.

-Pois não, senhor Roque! Que tens a dizer? – Perguntou o delegado de plantão.

Vim registrar uma queixa, senhor delegado.

– O caso é o seguinte:- chegando cedo em casa...

-Roque foi relatando tudo ao delegado.

-Entendi, Senhor Roque! – Vamos instaurar um processo por difamação. Mas me mate a curiosidade porque me falta um detalhe. Finalmente... Comeu ou não comeu?

- Inté o senhor, Dotô? - Resmungou Roque saindo batendo a porta com força e humilhado.

Não tinha mais jeito. Agora a vendeta teria que ser consumada porque não poderia deixar isso passar em branco.

Que chorem as viúvas! Ele vai morrer e que se prepare. Vou inté na missa de sétimo dia desse desgraçado. Imagine ter que agüentar a língua deste povo perguntando.” Comeu ou não comeu?”.