DEVANEIO NOTURNO

Ela queria falar de música. Sentiu, cantou, quase dançou... Os ritmos, as melodias vibravam em sua mente, em seu sangue. Estava à flor da pele. As palavras musicadas envolveram-na naqueles momentos. Fez da noite pura festa. Festa interior, exteriorizada em sorrisos e olhares, brincadeiras e risadas.

Por fim a energia acabou. Não foi o silêncio ambiente que lhe incomodou: foi o aviso da memória de que um dever, uma sina marcavam-na como um karma. Não acreditava nessa linha filosófica, porém tinha certo que destino não se evita nem dele se foge.

Lágrimas escaparam-lhe. A escuridão ao redor camuflou este desabafo - por tanto tempo contido; havia semanas não chorava.

Concentrou-se no concreto do ser: sentiu as mãos, a respiração, o perfumado cheiro e palavras de consolo fizeram ouvir seu coração. Adormeceu.

Amanheceu.