Uma dama, apenas uma!

Chorou sua vida amargurada, olhou no relógio, perguntou quanto ficava e eu falei:

– Não se incomode, está pago. Pela companhia! – e dei meu cartão, seguro de tê-la agradado.

Acho que ela entendeu “pago pela empresa”, mas não! Pela companhia dela, oras! Eu sei que a moça se levantou, dei o rosto ela apertou minha mão, e saiu do bar com o rosto sequinho, sequinho. Atriz? Hum... Não quis encanar. Só pensei comigo: “por onde andam as damas de antigamente, ou, de hoje em dia”?

Noutra noite, eu, com manias de quem sai sozinho, fiz o convite:

– Uma bebida com a senhorita? – reparei que ela não usava aliança.

– Uma bebida... Por que não? – e sorriu, com seu copo seco havia uma hora e meia, doido por um refil.

– Prefere beber no balcão ou ir para uma mesa? – pra minha mesa...

– No balcão mesmo. A não ser que te incomode... – e buscou resposta com o rostinho.

– Se está bem para você aqui, o que é minha mesa reservada perto disso? – com meu jeito espirituoso ganhei outro “só-riso”.

– Que perfume é esse? – a coelhinha fungando o ar.

– Hambúrguer. – maroto, apontei para a chapa.

– Perguntei pelo perfume, não pelo cheiro... Seu bobo! – “bobo” é ótimo, quando falam “palhaço” que é problema.

– O meu perfume? Ah, não conto. – buscando o interesse da jovem.

– Ah, mas eu preciso saber! Nunca senti antes... – aproximando o nariz do meu pescoço.

Quarenta e sete semanas sem que uma só fêmea se aproximasse tanto de mim! Segurei suavemente seu queixo com a frase: “tome cuidado com homens que se perfumam muito” – e tasquei-lhe um beijo, preparado, sempre, para receber a tal da “bofetada”, mas não...

Com o karatê da própria moça, eu beijei o chão antes mesmo de tocar seus lábios. E, imobilizado pela faixa marrom, gritei a covardia:

– Socorro! Uma dama, por piedade! Acuda esse cavalheiro sedentário!

Marcos Baô
Enviado por Marcos Baô em 03/09/2005
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