A MENINA E A LUA

A menina da Rua Panamericana, adorava a Lua... Toda noite, ía para o quintal vestida em um de seus pijamas de flanela, sentava em uma pedra e observava o céu. Via nuvens que se formavam em figuras inúmeras e que se dissipavam alegres rumo ao canto do mundo. Estrelas reluzentes e cadentes - os olhos da menina não perdiam uma. Constelações e seus nomes, signos e mitos gregos, sabia reconhecer todos. O Cruzeiro do Sul, bússola de viajantes, um de seus fascínios. Ficava assim, encantada com o brilho vindo do infinito, tão longe e tão ao alcance de suas pequeninas mãos que fingiam tocar o firmamento.

E a Lua aparecia, meio dourada, meio prateada, exibindo São Jorge e o dragão.

- Sim, posso ver São Jorge... Ele está em seu cavalo, está mesmo lutando contra o dragão, e esta noite, posso ver ainda melhor... – dizia para sí mesma, todas as noites.

Ficava assim, deslumbrada com a Lua, como gigante luminoso a passear pelo céu, companhia de estrelas e nuvens. Cheia de luz ou minguando solitária, crescendo soberba ou apenas de cara nova escondida, a menina vigiava.

- Hoje, ela parece uma grande bola acesa, pendurada no alto... – dizia a menina a sí mesma. – Hoje, ela parece uma lasquinha de unha... – brincava a menina sozinha. – Hoje, ela parece uma fatia de melancia... – ria-se contente. – Hoje, não a vejo... – lamentava.

Ficava assim, tão à vontade, que se deixava perder em pensamentos, sonhando com algum príncipe encantado que viesse tomá-la em seus braços, levá-la para sempre e fazê-la feliz.

- Este céu sobre minha cabeça, também cobre a cabeça do meu futuro amado! – pensava tímida. – Estaria ele agora igualmente olhando para o céu?

Ela sonhava também com viagens aventureiras em navios que cortassem as águas dos mares longínquos, contadores de estrelas... ou quem sabe em algum foguete, que chegasse bem perto dos astros que agora se faziam seus amigos. Pensava em personagens fantasiosos, guerreiros inexistentes, valentes, poderosos, fiéis e justos, a comandar um mundo diferente. Conversava e falava sozinha, em seus devaneios de menina que gosta de sonhar...

Seu olhar seguia a Lua e a via fazer um arco no céu, traçando seu caminho prateado, e se escondendo faceira por detrás das montanhas. Nesse instante, então, quando a perdia de vista, a menina levantava, espreguiçava-se toda, bocejava e, lentamente, caminhava de volta pra casa, com o sono a lhe avisar que a madrugada ía alta. Em seu quarto, deitava sua cabeça cheia de estrelas e Lua em seu travesseiro e dormia tranquilamente.

- Já sinto saudades da Lua... – dizia antes de adormecer.