O Sol da Manhã

O sol da manhã ainda era bom apesar de tudo. Noite passada nós brigamos, uma briga das feias. Foi assim na noite retrasada, e no fim de semana anterior. O que está acontecendo? Ela não me disse bom dia. Estou deitado no chão da varanda, banhando-me no sol, e não há nenhum bom dia solto pelo ar. Nesse momento, estou tentando preservar o silêncio contra qualquer ofensa que possa violá-lo.

Estamos distantes, estamos estranhos. Somos como passageiros viajando pelas estações de trem, que ocasionalmente cruzam olhares e se ignoram de imediato para não se encabular.

O clima está tão pesado que qualquer palavra parece ser capaz de cortar o vento, cortar nossas línguas, nossas cabeças. Tão pesado que me deixa enjoado. Não sinto e não seria capaz de reconhecer nem os traços ou silhuetas da fome.

Ela olha pra mim e não vejo mais nenhum afeto em seus olhos. Sinto que irá partir. Acho que ela sente o mesmo, que também irei partir. Endurecemos nossos corações um pro outro, não permitimos mais que um sinta o outro. Tentei segurar suas mãos e você tão rapidamente as afastou...

Eu negligenciei suas necessidades, você me cercou com insegurança. Estamos prontos para a inevitável batalha, já é possível vislumbrar as acusações no horizonte, colidindo contra as desculpas. Você sempre foi gentil comigo e eu sempre te acolhi. Agora, brigamos e brigamos. Parece que não somos mais capazes de nos sintonizar. Nosso amor é o próprio sol da manhã: Fraco, ameno e pálido.

Mas o sol da manhã ainda era bom apesar de tudo.

Vinícius Risério Custódio
Enviado por Vinícius Risério Custódio em 18/03/2014
Reeditado em 30/04/2016
Código do texto: T4734124
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