SEGUNDO MATEUS

Hoje esteve cá o Mateus, e enquanto soldava o portão do ferro com que lida desde criança conversou acerca do banal que é o tempo que faz e nos afeta, e do Deus que o manda na forma de vento, chuva, frio; enfim falou da nossa relação com a atmosfera em que vivemos que é divina, mas nem sempre divinal.

Mas a conversa foi para além do tempo do banal, levou-o a evocar as suas origens na profissão, onde se achava um parente pobre do Velho ferreiro, apesar de ser o herdeiro das paternais sabedorias antigas.

Mateus utiliza agora máquinas ferramenta modernas, talvez por isso não tenha atingido a proficiência na manufactura do metal elaborado com a arte e técnica que emanava das mãos do pai a temperá-lo, moldá-lo,afeiçoá-lo até o levar à perfeição da ideia-molde.

Este serralheiro não o é só e apenas. Além da bagagem material que herdou do pai, enferrujados instrumentos agora de museu, mas que ele estima e conserva não só na memória mas nas prateleiras e bancadas da velha oficina, herdou também património imaterial que germinou na sua mente em filosofia activa, prática, qual Confúcio. Munido desta ferramenta fina enfrenta o trabalho com alegria e a vida com sabedoria.

Ouvi-lo é uma aula. Espero que ele nos dê mais lições, porque por aqui há muita ferrugem e ferros retorcidos, mas o Mateus com o seu Evangelho derrete molda e amacia as almas mais duras e metálicas.

Segundo este Mateus a alma humana para ser feliz deseja apenas um pouco de calor, e ele é mestre nessa arte do fogo e da tempera para cada alma humana.

Podia ser apóstolo mas é serralheiro.

Arbogue
Enviado por Arbogue em 28/03/2014
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