A espera

O trem rangeu sobre os trilhos ao se aproximar daquela estaçãozinha perdida no espaço. Nos vagões, poucos passageiros aguardavam enfadados o recomeço da viagem. No pátio quase deserto da velha estação, apenas uma pessoa esperava ansiosa pela descida dos passageiros. Só que nenhum desceu e, momentos despois, o apito da locomotiva, anunciando a partida, ecoou pelo espaço.

O velho, única pessoa que esperava alguém que não veio, alongou o olhar de decepção pelos vagões que se afastavam deixando no espaço o ruído característico do tradicional café-com-pão, café-com-pão, café-com-pão...Velhos tempos!

Retirando um lenço xadrez do bolso do paletó surrado, o velho limpou a boca e logo depois assou o nariz. Guardou de volta o lenço e começou a andar, procurando a saída da estação.

Vez ou outra, olhava para trás e suspirava, cofiando o espesso bigode branco. Com certeza, seu idoso coração apertava de tristeza, entretanto, não havia ninguém que verificasse se brotava alguma lágrima furtiva de seus olhos.

Passou por ele um menino que vendia algodão doce e ele nem viu. O único sorveteiro do lugar, empurrando seu carrinho e tocando uma sineta para chamar a atenção dos fregueses, também passou por ele. Esboçou um sorriso, talvez tentando ganhar mais um freguês, porém o velho o ignorou com aqueles olhos opacos, olhar de quem vê mas não enxerga.

- É triste esperar o que não vem e que, talvez, jamais virá. Na mocidade, a desilusão é superada mais facilmente; na velhice, ela vai roendo fundo a alma cansada de um corpo fatigado que procura ainda se apegar a um elo de amor, mesmo não sendo recíproco - filosofou ele, vagarosamente.

Continuou a andar e não tornou a olhar para trás, até que sua figura desapareceu na distância.

Os pessoas que passavam pelo pátio da velha estação jamais saberiam a verdade da espera daquele senhor. Um antigo amor? Uma paixão? Um amigo? Um filho? Só ele, apenas ele, de rosto já enrugado, sabia a razão da desilusão amarga de uma espera que só o tempo dirá se seria recompensada.

E o tempo disse. Cinco anos depois, cena semelhante, mesmo protagonista. De repente, mudou o cenário. Do trem desceu uma mulher de meia idade que começou a andar pelo pátio deserto da estação, levando pela mão um menininho. Olhou para um lado, depois para o outro, até que enxergou o velho.

- Veja, meu filho, seu avô! - e começou a andar mais rápido, quase arrastando a criança que não conseguia acompanhar os passos da mãe.

Aproximou-se do velho que lhe abriu os braços:

- Minha filha! Quantos anos! - Olhou para o neto. Nem sabia quem era o pai, mas não importava, era seu neto, e abraçou também a criança, fruto do impensado cotidiano.

Quem olhasse atentamente o velho,veria a lágrima furtiva que desta vez brotava de seus olhos cansados, mas agora felizes.

Nadir de Andrade
Enviado por Nadir de Andrade em 07/05/2007
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