O ASSALTANTE

Muitos afirmam que nós, com os nossos pensamentos, e na maioria das vezes de modo inconsciente, atraímos tudo de bom ou de ruim que acontece na nossa vida. Por via das dúvidas, é melhor se prevenir.

Sozinha, já tarde da noite no ponto mal-iluminado, a mulher esperava pela condução que a levaria de volta para a casa.

A auxiliar de enfermagem teve que dar plantão naquele feriado de sete de setembro.Impaciente, sua mente trabalhava de modo inquieto: “Ah, meu Deus! E esse ônibus que não vem, e se eu for assaltada? Os bandidos vão me humilhar, vão me violentar ou pior, podem me matar”.

Há dois dias, ouvira pelo noticiário da tevê um delegado afirmando que mulheres que costumavam andar desacompanhadas à noite eram as vítimas em potencial prediletas dos facínoras. “Depois de ter todos os seus pertences roubados, a mulher foi estuprada, morta, esquartejada e as partes do seu corpo foram jogadas em um matagal próximo de onde a vítima morava” alardeava o apresentador do espetaculoso programa vespertino de crônicas policiais. Ao recordar-se dessa informação, seu coração mais uma vez acelerou.

A auxiliar de enfermagem sentiu uma mão, que mais parecia um galho seco, tocá-la no ombro direito.

— Por favor, não! Leve o que quiser, mas não me faça mal.

— Tem um cigarro aí, moça? Era apenas um velho andarilho maltrapilho.

— Nossa, que susto o senhor me deu! Lamento, senhor, mas eu não fumo. Trabalho em hospital. O velho afastou-se resmungando um palavrão. De novo o ambiente mergulhou em um silêncio profundo, cortado apenas de vez em quando pelo cricrilar de um grilo.

À medida que sua imaginação ia criando as cenas mais macabras, a pobre auxiliar de enfermagem ficava cada vez mais desesperada com a demora da condução “cadê esse ônibus?”

De repente um adolescente comprido e franzino, montado em uma bicicleta, se aproxima rapidamente. O jovem puxa uma faca e de modo ameaçador diz:

— Perdeu, perdeu! Aí, minha tia, passa a bolsa.

Apavorada, a mulher lhe entrega a bolsa sem protestar.

— Beleza! Agora passa o relógio.

Depois de pegar o relógio o adolescente sai na carreira.

— Ufa! — suspirou a aprendiz de enfermagem aliviada. Tudo terminou bem afinal. Por sorte houvera colocado sua carteira e o celular no bolso frontal da calça antes, mas por muito pouco, de ser assaltada.

O medo de um acontecimento é muitas vezes mais insuportável do que o próprio acontecimento.

O ônibus finalmente chega.