Lágrimas de Esperança

São seis horas da manhã e o velho despertador vermelho e redondo de Susana a acorda. Ela, num salto se levanta da cama, calça seus chinelos "Havaianas" brancos e veste, sobre sua camisola, um casaquinho bege claro, feito de clochê. Aquela manhã estava mais fria como as de costume nestas peculiares manhãs de inverno.

Ela vai ao banheiro e, rapidamente lava seu rosto e escova os seus dentes, pois não queria perder tempo para fazer o café e aprontar as "coisas" de Rafael, seu filho de 16 anos, para que ele fosse à escola.

Susana, então, ao chegar à cozinha, liga o interruptor, à direita da entrada e põe a água para ferver, enquanto vai ao armário, ver o que prepararia para Rafael. Encontra alguns biscoitos, tipo "Cream cracker" e, na geladeira, pega um patê de frango, desses de tubinho, que era o favorito de seu filho adolescente. Junto com o patê, Susana pega uma jarra de laranjada, que tinha sido feita na noite anterior, para o jantar e que parecia não haver sido tocada.

Susana apronta a mesa, jogando uma toalha estampada de figuras natalinas, estincando-a com todo o carinho; passa o café no coador de pano, que ainda fazia questão de usar, pois achava o sabor mais agradável e, embalada pelo aroma suave daquele cafezinho feito na hora, vai ao quarto de Rafa acordá-lo, a fim de que ele se aprontasse e tomasse seu desjejum, antes de ir estudar.

Ela chega à porta do quarto de Rafael, abre-a vagarosamente, pois a porta estava, há algumas semanas, com um incômodo rangido e, com a porta ainda sobreaberta, acende a luz e diz: "Rafinha, acorda, filho! Está na hora da escola e..."

De repente, sem concluir o que pretendia falar, Susana olha para a cama de Rafael e se confronta com a mais dolorosa realidade, que há dois intermináveis e implacáveis meses, tenta firmemente negar: Rafael não está mais em sua cama; ele não está no seu quarto; não está em sua casa. Ele não faz parte mais de sua vida!

Rafael, pela influência de alguns colegas, se envolvera com drogas e, depois de muita discussão com a mãe, que tentara persuadi-lo a sair desta vida, não aguentando mais encará-la, saiu então de casa para um lugar que só Deus sabe. A desiludida mãe já rodou o bairro todo, falou com os amigos de Rafael, perguntando sobre seu possível paradeiro e, nada!

Susana ainda não acredita que, aquele menino tão bobinho, tão carinhoso e tão amigo, principalmente após a morte de Geraldo, seu pai, quando ele ainda era uma criança de dez anos de idade, se tornara alguém irreconhecível, irritadiço, descontrolado...

Susana ainda está fitando seu olhar naquela vazia cama, que continua do mesmo jeito que Rafael deixara na última noite em que dormiu em casa e, para ela, para Susana, só restam as lágrimas; lágrimas de dor, que parecem tão pesadas, à ponto de lançá-la ao chão, ajoelhada, na beira da cama de Rafa, fazendo-a suplicar a Deus que guarde seu rebelde e amado filho onde quer que ele esteja. Lágrimas de dor, que se transformam em lágirmas de esperança; esperança de que aquela cama, agora vazia todas as manhãs possa, uma outra vez, quando Susana abrir a rangente porta e acender a luz, encontrar Rafael deitado nela e respondendo com um sorriso no rosto: "Tudo bem, mãe! já estou levantando..."

Alexandre Graciano