Autor da foto: Chris Ferreira
 
O COMPOSITOR
 
          O bem-te-vi cantava no galho da amoreira e seu Mingo olhava boquiaberto. De repente passou a mão num lápis e um caderno. Apoiou este na cerca feita de lasca de pinheiro e começou a escrever algo que depois revelou que era um poema. Dona Ju, a vizinha palpiteira dava tantos palpites que as pessoas nem ligavam no que dizia. Mas ali falou uma frase e repetiu no mínimo cinco ou seis vezes. Dizia que ele deveria colocar uma melodia nas composições, registrar e passar para algum cantor. Poderia ganhar dinheiro com isso.
          Ao ouvir, quase não dormiu de noite pensando como poderia fazer. Não sabia tocar nenhum tipo de instrumento musical. Mas teve uma ideia: levar suas poesias até à cidade e tentar falar com alguém sobre as mesmas.
          No dia seguinte estava o senhor Domingos, o Mingo como era conhecido, no ponto do ônibus pinga-pinga. Veio o veículo de transporte coletivo. O homem entrou e sumiu pela estrada poeirenta que serpenteava os campos verdes da região.
            A sorte estava ao lado do poeta quase analfabeto. Sem saber, olhou uma placa numa casa onde dava pra ver que ali funcionava uma estação de rádio. Chegou e aguardou até quando viu alguém. Chamou o rapaz que lá estava e falou com a voz trêmula de vergonha, o que fora fazer ali.
     Logo após foi encaminhado para o diretor da emissora. Este lhe pediu que deixasse o caderno e voltasse dali a duas semanas.
          No prazo marcado estava o seu Mingo na porta da Rádio ansioso, mas sem esperança. Chegou, entrou e aguardou. De repente apareceu o mesmo moço que o atendeu na primeira vez. Este já o tratou como um velho conhecido chamando-o pelo nome e deu-lhes os parabéns. O homem ficou sem saber do que se tratava. Em seguida veio o diretor com o caderno e mais alguma coisa que parecia um livro. Eram seus poemas digitados, organizados. Encadernados, corrigidos e com páginas numeradas. Haviam feito as correções porque os erros de Português eram muitos. O próprio diretor organizou para mandar para registro na Biblioteca Nacional. Alguns estavam pautados em partituras. Faltavam os dados do autor para preencher a ficha, pagar a taxa no Banco e enviar.
          Dali a dois dias foram mandados os poemas para registro. O chefe da emissora se prontificou a pagar a taxa. Ficaram todos ansiosos no aguardo. Em aproximadamente dois meses e meio veio resposta. O trabalho do Sr. Domingos estava devidamente registrado, sem perigo algum de plágio.
          Assim que chegou o certificado com o número, as cópias foram distribuídas para vários músicos.  Algumas das poesias se tornaram letras de músicas de sucesso no Brasil e até fora do país. Uma das canções foi feita uma versão italiana e gravada por um tenor famoso.
        Mingo teve descanso do trabalho árduo da lavoura e dedicou-se aos estudos, à música e ao aperfeiçoamento dos seus escritos. Com o dinheiro que ganhou investiu em si e na família.
 
(Christiano Nunes)