Margarida

Margarida

O sol estava a pino, o calor era de matar. A pobre Margarida estava toda suada, e sua pele queimada e seca. O trabalho na enxada era muito pesado, porém, ela era uma mulher forte, e conseguia limpar o mato tão bem quanto seu marido. Sua vontade era estar em casa, na sua cozinha, mas Onofre, não permitia, porque queria que ela lhe ajudasse na roça. Margarida não podia ter filhos, era estéril, por isso, Onofre obrigava a mulher a ir para a roça.

_Ficá fazenu o que im casa, muié? Num tem criança pra cuidá. Aqui pelu menu ocê é uti.

Margarida sofria muito por não poder ter filhos, e as cobranças do marido, que lhe culpava bastante, contribuíam para deixá-la ainda mais infeliz. Se ao menos Onofre compreendesse a esposa, mas era rude demais para entender, que a mulher não tinha culpa.

Aquela era a década de 1950, e tudo era muito difícil, principalmente, para pessoas pobres ao extremo, como aquele casal, por isso, um tratamento era algo impossível para eles.

Todos os dias, exceto nos finais de semana, Margarida ia para a roça com o marido. Além de limpar mato, ela cozinhava debaixo de uma árvore. Eles almoçavam e jantavam lá mesmo. Eram suas únicas refeições, não sabiam nem o que era uma merenda. Raramente comiam um pedaço de rapadura, após o almoço.

_Hoji o só ta dimais! Meu Deus! Num tô aguentanu mais essa dô de cabeça. Disse Margarida para o marido.

_Dexi de sê froxa, Maigarida, boti o chapé na cabeça!

_Pra ocê é faci, é homi, mais eu sô muié, o só afeta mais.

_Trabaia muié, trabaia!

Margarida continuou trabalhando e acabou desmaiando.

Onofre quando viu a mulher caída no chão entendeu que era sério o que ela estava sentindo, e desesperadamente, tentava acordá-la. Somente quando ele jogou água no seu rosto, foi que a mesma acordou, muito pálida e fria. Onofre teve que levá-la nos braços para casa. Depois de colocá-la na rede, chamou uma vizinha chamada Nina, para ajudá-lo.

_Também eu não sei o que quer o senhor levando sua esposa para a roça. Disse a vizinha.

_ E agora, o qui a siorá acha qui é? Perguntou o homem aflito.

_Bom, eu não sou médica, mas pelos sintomas, penso que seja pressão alta.

_ E qui façu? Perguntou Onofre.

_Não a leve para a roça, pelo menos nos próximos dias, ela terá que diminuir o sal na comia, e ter bastante repouso. Não pense o senhor, que problemas de pressão é pouca coisa. Disse a mulher.

_Tá certu, num vô levá ela pra roça, pelu menu pô um tempu.

Nina, era uma pessoa que estava sempre disposta a ajudar a vizinhança, era caridosa e gentil,nunca negava ajuda as mulheres mais sofridas e reprimidas do São Diogo. Tratava-se de uma mulher feliz no seu casamento, tinha duas meninas lindas.

Nina foi em casa, e fez uma sopa para Margarida.

_Num pricisava se incomodá, Nina, tô até cum veigonha.

_Sou sua amiga Margarida, tome a sopa, vai lhe fazer bem, você ficará forte, pode ser fraqueza.

Margarida numa grande rapidez tomou todo o prato de sopa, nunca havia comido algo tão saboroso. Ela e o marido só comiam carne uma vez por mês.

_Muitu obrigadu, Nina!

_Não há de que, sempre que precisar, pode me procurar.

O que seria da humanidade se não fossem pessoas como Nina, generosas e capazes de fazer o bem?

Nina foi para sua casa e Margarida ficou com o marido, à noite, ela ainda teve um pouco de dor de cabeça, no entanto, amanheceu bem melhor. Onofre foi sozinho para a roça. Margarida estava colocando o feijão no fogo, quando recebeu a visita de sua vizinha. Esta, trouxe uma farofa de carne moída.

_Dessi jeitu amiga, vô criá uns quilim. Disse a mulher de Onofre.

Nina apenas sorriu. Depois, perguntou-lhe por que ela e o marido não adotavam uma criança.

_Nois nunca pensamu nissu, mais se bem qui eu quiria tê uma fia pra ficá fazenu cumpanhia a eu. Ais nossa condição é pôca, mais a onde comi dois, comi trêis.

_Fale com seu marido, tente convencê-lo.

Margarida ficou pensativa, conhecia Onofre mais do que ninguém, e sabia que ele não iria concordar.

Naquele dia, quando ele voltou da roça, Margarida falou em adoção, mas Onofre ficou furioso com ela e disse que não queria criar filhos dos outros. Era um homem preconceituoso.

_Mais Onofri, eu sonho tantu cum uma criança.

_Acabi cum essa histora muié, e trati de ficá boa e vortá a trabaiá, quem sabi assim ocê isqueci essa bestera de querê criá fio dus otrus.

Dias depois, Margarida voltou para a roça e esqueceu a história de adoção. Foi sempre reprimida pelo marido, e sempre viveu debaixo de suas ordens, raramente sorria e frequentemente chorava.