Gol à queima roupa

     O Ademar entrou no mercadinho, bateu palmas para chamar a atenção de todo mundo, tirou um pedaço de papel do bolso e foi logo lendo em voz alta:
 
Bahia vence clássico
     A equipe do Bahia foi agressiva, principalmente no primeiro tempo. Não foi à toa que o técnico colocou lado a lado os dois fortes atacantes baianos. De repente, Léo avançou, driblou, passou na direita para Tito que chutou à distância, marcando um golaço. Sem dúvida, foi uma vitória merecida.

     Não havia muita gente por lá: o Tião da nega estava debruçado no balcão, dona Tereza estava arrumando uma prateleira de latas de ervilha, uns dois fregueses escolhiam frutas. Seu Alfredo, dono do estabelecimento escutou a leitura alto e claro. Mudou de cor. Moreno que era, foi embranquecendo, embranquecendo, até que num baque seco caiu duro. Enfarte fulminante. De verdade. Mentira mesmo era a notícia que o Ademar inventou, escreveu e leu para incomodar o fanático torcedor do Vitória.
     Hoje em dia o Ademar, que é brincalhão 24 horas por dia, faz semanas que não aparece na vila. Quando é visto fica cabisbaixo, com cara de brinquedo enfartado.