Número Restrito

Aqueles que o amavam (poucos, por sinal) estavam felizes de fato, mas aparentemente tristes. E os que o odiavam também, mas por motivos diferentes. Todos os rostos conhecidos estavam ali naquela sala pela qual todos nós já passamos alguma vez na vida, mas só um (ele) estava na posição horizontal; pelo menos era o que todos imaginavam...

Seus inimigos se lembravam das brigas, das dívidas e do seu jeito petulante de agir diante de qualquer motivador de animosidades. Eles o chamavam de “boca-dura”, esquentadinho, abusado, entre outras coisas... Seu passado era dividido em antes e depois do segundo casamento. Sua família esperava que ele se casasse com uma mulher bem mais rica e elegante que sua ex, a quem ainda amava muito. E seguindo os conselhos de seus pais, ele o fez e pagou um preço alto. Apesar de tudo, seus filhos do primeiro casamento (dedicados e cúmplices) sentiriam muito a sua falta, mesmo sabendo que ele realmente estaria em um lugar melhor, longe de toda aquela negatividade que o cercava. E dali a pouco tempo, entre o choro típico daqueles momentos e as risadinhas sarcásticas de seus sócios corruptos, eis que surgem 4 homens; cada um de um lado do caixão para levá-lo (seu corpo) para sua última morada. Muitas orações eram feitas naquela hora; alguns oravam pelo bem de sua alma, outros, pelo mal da mesma... Havia quem orasse para descobrir alguma falcatrua dele; algo que os beneficiasse posteriormente... E havia quem soubesse mais do que se poderia pensar. Enquanto levavam o caixão, que por sinal estava lacrado, a viúva, sua provável principal beneficiária, parecia mais alegre do que o normal e enquanto piscava para seu amante, ela fingia secar as lágrimas que insistiam em não cair de seu rosto pálido. E assim, nesse clima de hipocrisia tristeza e mistério, aquele corpo foi sepultado. Duas semanas depois, estavam todos reunidos à mesa, inclusive o advogado da família que se preparava para ler o testamento. Então, começou uma briga entre a madrasta e os filhos que estavam “calçados” em todos os sentidos. E havia gritos e ofensas e algo surpreendente quase saiu. E o testamento foi lido, tirando o sorriso confiante do rosto da madrasta e não causando qualquer reação nos filhos dele. De repente, um deles confessou que já sabia que seu pai havia deixado sua herança apenas para os filhos, mas não pôde dizer mais nada, pois foi impedido pelo advogado que também estava “por dentro” de toda trama. Sendo assim, todos foram embora, mas a alegria não era de ambas as partes. No estacionamento do prédio, ao entrar no carro, um dos filhos recebeu uma ligação de um número restrito. A voz do outro lado da linha contava novidades de Paris e seus encantos. Era uma voz masculina e conhecida, e o jovem rapaz sorriu largamente. Despediu-se com um “Adeus, papai” e risos marotos.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 31/07/2014
Reeditado em 13/11/2018
Código do texto: T4904494
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