COMO PEDIR UM BEIJO (MINHA EX-CRETINA)

Pensei a semana inteira em como dizer para ela que estou apaixonado. Primeiro fiz a barba, ajeitei o cogumelo gigante que se tornou o meu cabelo, cortei os pêlos do nariz, as unhas dos pés, além de usar o meu perfume que está quase no fim. Pensei em ligar para o celular dela, lembrei que estava sem crédito e que ela não tinha mais celular, nem telefone em casa, ô crise foda.

Precisava escrever uma poesia de amor para ela, o meu cérebro finalmente servia para alguma coisa, afinal ser tímido sempre foi o meu erro, assim todas as mulheres que eu fico afim, acabam se tornando minhas grandes amigas antes mesmo que eu tente beijá-las.

Escrevi o poema e tive a infeliz idéia de pedir a opinião da minha ex-namorada cretina, como se o ano que eu agüentei aquela peste problemática não bastasse para perceber que ela jamais, entendeu um níquel do que escrevi. E a infeliz disse com letras em negrito, “que poesia triste”. Cretina e insensível, aquela peste nunca irá amar ninguém, terá em breve um filho com o seu namorado “macumbeiro”, o primeiro de uma ninhada de imbecis.

Fiquei triste por escrever uma poesia triste, tomei os meus antidepressivos e dormir. Tive sonhos eróticos com ela, deve ser porque não tirei os olhos dos seus quadris de tarde. Tive uma ereção que me deixou inevitavelmente feliz, afinal estava a mais de um mês sem uma ereção que seja, filmes pornô, revistas, mulheres com seios fartos, meninas em uniformes escolares; nada alegrava o meu mediano amigo.

Botei Nando Reis no PC, lembrei que ela adorava assim como eu. Lembrei do show, lembrei que não voei nos seus lábios maduros porque estava com a minha ex-namorada cretina, a preste sequer quis sair do lugar. Por qual motivo inútil não a beijei, porque não beijei a Keira na minha formatura, a Belta no apartamento dela todas as vezes que lá estive.

“Aparte aquilo que a gente quer/ Eu sou um homem, você é uma mulher/ Se estou com fome você me traz uma colher/ E eu me alimento”.

O café tava bom, foi difícil acertar o açúcar, mas ficou muito bom. Já não tenho vergonha de me fazer presente, de andar descalço em volta da lagoa, de abraçar, de dizer o que eu penso e muito menos de desejá-la como a mulher maravilhosa que ela é. Porém tenho medo do que estou sentindo.

“Me dê seu leite como meu licor/ Me dê seus peitos cheios de amor/ Me dê um beijo sem nenhum pudor/ E você me penetra”

Quase a beijei na cozinha, quis parar o meu corpo e esperar até que os nossos lábios se tocassem, assim como desejei beijá-la numa festa no primeiro ano de faculdade. Tive medo de invadir o espaço dela, de invadir aquela boca que tanto desejo.

“Eu sou um homem você é uma mulher/ Você me come porque eu quero ser sua mulher/ E eu quero o homem que come essa mulher/ Será que você me entende?”

Tomei 10 cervejas de garrafa e um litro de vodca pura. Fumei, mas nunca me dá barato e ela sabe muito bem disso. Quis tê-la na minha cama, quis correr até a casa dela às 3:20 da madrugada, não passei da segunda esquina.

E a minha ex-namorada cretina tinha razão, eu nunca sei o momento certo. Sempre é cedo ou tarde demais, o local nunca é certo. Mas o desejo é meu e nunca mais será de uma alma ignóbil como aquela. Quando eu falar com ela, repetirá que estou louco, já estou visualizando isso, e nem um beijo irei ganhar.

* Esse texto contem citações da música MONÓICO, letra de Nando Reis.