O AMOR É LINDO

Passei meses sonhando com aquele momento. Nada poderia ser mais importante que aquilo na minha vida. Finalmente, depois de tanto chorar pela indiferença do Marquinhos, ele fez o favor de um dia me convidar para a gente dar uma volta. Foi a glória. Era a primeira vez que a gente iria sair. Eu nem sabia aonde o Marquinhos pretendia me levar, mas o lugar não importava. O bom mesmo é que agora era tudo comigo. O Marquinhos, até que enfim, conheceria uma mulher de verdade.

Apesar da minha angústia, eu estava segura das minhas habilidades. Eu sabia que podia fazer com que o Marquinhos se apaixonasse por mim. Infelizmente, a fama dele não era das melhores. Minhas amigas alertaram: mulherengo, adorava futebol – não importava o dia ou a hora – e sair para beber cerveja eram os seus passatempos preferidos. Acreditei que era possível mudar o Marquinhos. Ele já tinha idade de assentar a cabeça.

Vestida para arrasar, tentei ficar sentada esperando o Marquinhos chegar. Não deu. Fiquei andando de um lado para outro, imaginando diálogos divertidos, olhares sedutores, cruzadas de perna para deixá-lo maluco. Um pouco antes da hora marcada para que ele aparecesse, fui dar uma última olhadinha no espelho para conferir o visual pela milésima vez. Para meu horror, encontrei um fio branco. O primeiro da minha vida. Quase gritei de pavor. Não, justo naquela noite, não! Em pânico, tentei arrancar aquele fio de cabelo duro que se projetava cruel bem no alto da minha cabeça. Nada, eu não conseguia segurá-lo com meus dedos. Pensei em uma pinça, mas aí ouvi a buzina do carro do Marquinhos lá embaixo. Nota dez para a pontualidade, porém bem que ele podia se atrasar uns cinco minutos aquela vez. Rezando para que ele não reparasse no fio branco, respirei fundo e encarnei a mulher sedutora. Quando entrei no carro, eu mostrava o meu sorriso n° 25, que significava “quero namorar com você e vou fazer de tudo para te conquistar”.

Não preciso dizer que o Marquinhos estava um gato e a gente logo se entrosou. Esqueci o cabelo branco, até porque reparei que ele já tinha vários. Quando perguntei para aonde ele me levaria, o Marquinhos olhou para mim e perguntou:

- Você gosta de pagode?

Meu sorriso – o n° 25 – congelou no meu rosto. Eu detesto pagode. De-tes-to. Mas era meu primeiro encontro com ele. Não podia bancar a chata. Foi por isto que eu respondi que sim. E então, pela primeira vez na vida, fui parar em uma casa de pagode.

O que eu posso dizer? Tentei entrar no clima, sacudindo o corpo assim que coloquei os pés lá dentro. O Marquinhos entendeu que eu estava afim de dançar e me levou para a pista. Bom, dancei do jeito que deu. Felizmente, ele foi educado o suficiente para ignorar os pisões que eu dei no pé dele e minha falta de ginga. Eu dancei pagode a noite inteira. Saímos de lá às cinco horas da manhã, eu completamente exausta, suada, descomposta. Ele me levou para casa, combinamos de ir em um cineminha ou coisa do tipo e eu me joguei na cama me perguntando se caso um dia a gente namorasse, as minhas noitadas seriam naquele ritmo. Não era bem isto que eu queria de um namoro. Precisava de coisas mais calmas. Virar madrugada dançando pagode era coisa de adolescente e eu já estava beirando os 30.

Só que depois daquela noite, não pude resistir mais aos convites do Marquinhos. Me apaixonei pelo cafajeste. Freqüentei todas as rodas de pagode da cidade, fui ao estádio de futebol nos finais de semana e armei alguns barracos por causa das antigas namoradas dele. Bom, valeu a pena. Apesar de alguns cabelos brancos que o Marquinhos me provocou, um dia ele se aquietou. Agora, faltando menos de uma semana para o nosso casamento, ele me confessou que eu quebrei uma unha do pé dele naquela primeira vez que a gente saiu para dançar, mas se admirou do meu esforço em acompanhá-lo. E foi aí que o Marquinhos se apaixonou por mim. O amor não é mesmo lindo?

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 19/05/2007
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