VIDA E MORTE DE UM GUERRILHEIRO SOLTEIRO

VIDA E MORTE DE UM GUERRILHEIRO SOLTEIRO

O sol entrava pela janela. Saulo começou a refletir sobre sua vida. Completava setenta anos naquele dia e apenas o sol o parabenizava ninguém alem do sol, nem irmãos ou sobrinhos, filhos não tivera com nenhuma de suas mulheres achava que filhos eram supérfluos, nunca teve vontade de te-los, talvez por isso todas elas o abandonasse, “sim todos os filhos são ingratos quando crescem” dizia ele á todas elas. Lembrava se dos seus vinte cinco anos quando se rebelara contra os desmandos da ditadura, nos companheiros de luta, nas vezes que foi preso e levado para o DOPS, no pau de arara e ao ver as lagrimas de seu pai vendo o entrar no camburão. “Fala maldito onde eles estão?”; gritava “o torturador Sr Jésus, nome santo, mas um demônio” e ali estava ele pendurado como um frango assando no espeto sendo olhado pelos cachorros daquele governo truculento. Sem abrir o bico, se via como um Jesus cristo torturado por um certo Sr Jésus. Mais choque no pau de arara, ”fala desgraçado, canta ararinha azul”; gritava o torturador. Não, eles poderiam matá-lo, mas aos seus companheiros jamais entregaria. Ficou preso por dez anos na agrícola de neves, plantando e colhendo o próprio almoço e jantar junto com os outros presos, assassinos, tarados, agiotas, ladrões de bancos ou de galinhas, tinha conceito com todos. Um dia abriram sua cela e o mandaram embora, nunca mais viu os companheiros estavam todos presos pelo país ou mortos pelo país. A primeira coisa que fez em liberdade foi ir ate ao clube Elite e dançou ate as cinco da manhã com Marieta que o esperou por todos esse anos de amor e sofrimento, “pobre coitada logo depois ela suicidou-se dando um tiro na cabeça no quarto de um motel’. Depois conheceu Maria Tereza tão bela e ciumenta, viveu com ela por cinco anos, pediu-lhe que decidisse ela ou as noitadas do Elite, ele abriu a porta e desejou-lhe boa sorte. E assim foi vivendo tendo como amante a eterna a boemia. Um dia acordou e divorciou-se agora da bebida “chega de mulher viciada na minha vida”;pensou e como todas as mulheres de sua vida sairão pela porta dos fundos, como agora lhe fugia a vida pela janela aberta daquele hospital através dos três tumores no estomago, mas o que fazer a vida é assim, nascemos em um dia de chuva e morremos numa tarde ensolarada. Não deixara nada ha ninguém ou a quem chorar por ele a não ser o sino da igreja de são Jose que batia as cinco horas da tarde quando gritou sozinho no quarto silencioso” liberdade companheiros, liberdade” e Saulo adormeceu para não nunca mais voltar.