Ilma. Ilma, a ilustríssima

À Ilma. Ilma. Não deixava de soar estranho. Ilma. Ilma. Ilustríssima Ilma. Escrito em um convite de casamento que seria entregue a ela. E não era só isso que era estranho. O fato de que a noiva deveria ser Ilma, e no entanto não era, também era estranho.

Elmo nascera para Ilma e Ilma nascera para Elmo. Cresceram juntos, iam juntos à escola, faziam natação juntos, tudo o que se podia imaginar. Onde Elmo estava, Ilma também estava e vice-versa. Porém, ele a via como amiga. E só. Já ela não. O via como seu grande amor. Grande amor não; único amor. Ninguém mais poderia cumprir esse lugar na vida de Ilma. Mas, na vida de Elmo, ela não poderia ser Ilma, a noiva. Ela era apenas mais uma convidada do casamento. Apenas Ilma. Ilma, a ilustríssima.

Recebeu o convite como quem recebe o próprio atestado de óbito. Era a afirmação definitiva de que Elmo não seria seu. Ele se casaria. Se casaria com outra! Com Olga, esse era o nome da noiva. Olga era o oposto de Ilma. E não combinava com Elmo, definitivamente. Nem no nome eles eram parecidos, assim como Ilma e Elmo eram.

Mas, a vida é assim. Por mais que gritemos, choremos, roguemos pragas... as coisas sempre acontecem independentes das nossas vontades. Elmo casou-se. Na igreja, ela estava presente. A ilustríssima Ilma, fingindo-se de boa amiga, desejando votos de uma vida feliz para o casal, enquanto que por dentro ela desejava mesmo que Olga caísse morta ali mesmo, naquele instante.

Não condenemos Ilma. Eu teria feito o mesmo. Desejado felicidades aos noivos com a mesma falsidade que nossa ilustríssima Ilma desejou. Mas enfim, a vida continuou. A festa de casamento acabou e para casa Ilma retornou. Sozinha.

Elmo e Olga viveram muitos felizes. Tiveram filhos e pareciam gostar muito um do outro. Já a nossa ilustríssima Ilma passou o resto de seus dias sozinha. Não se apaixonou novamente, não teve uma vida feliz, não fez nada daquilo que tanto sonhara em fazer com Elmo. Na verdade, o que ela não percebeu, é que jamais trabalhara com a possibilidade de não ter Elmo na sua vida. Fizera muitos planos, sim; Para ele. Enquanto a ela, não tinha planos, nem vida nem nada. Era apenas Ilma. Ilma. Ilustríssima Ilma. Ilustríssima alma. Alma de Ilma, Ilma desalmada, Ilma mal-amada.

Daniel Bartholomeu
Enviado por Daniel Bartholomeu em 21/05/2007
Código do texto: T496063