total controle da situação

Não pensei que poderia ser possível, você é aquele ônibus que quando não esta lotado eu estou longe do ponto quando passa. Preciso me preparar, ficar pronto para quando você chamar, recortar no jornal o horário da sessão dobrar e colocar na carteira junto com meu cartão. Um solitário e misero cartão de acesso da faculdade, sem maior utilidade serve apenas a mim como identificação, evita que a policia seja dura e me bata de antemão. Por vezes o exibi para impressionar alguma garota de escola dentro do coletivo, contudo a finalidade que mais utilizo e para executar empréstimo de livros na biblioteca da faculdade.

Passou a acompanhar-me junto ao cartão uns versos que fiz pensando em ti, poderiam nunca sair dali, criar teias de aranha e juntar poeira, mesmo assim os teria na manga na esperança de descartar no momento correto. Ficava mirrando as garotas a espera do glorioso momento em que utilizaria toda a minha graça poética para interpretar o amor contigo que acreditava fielmente ter por você.

Viro a esquina da sua rua todos os dias, passo pela frente da casa olhando fixamente ensaiando a cara de espanto já com a frase pronta de resposta, “você mora aqui?”, seria perfeito.

Tinha tudo preparado cronometrado e ensaiado, nada fugiria ao meu controle basta que cruze o meu caminho. Todos os possíveis locais de encontro tem a sua cantada certa, o convite correto, o vinho. Opa o vinho também não, toda ocasião teria apenas o mesmo vinho, não sou criativo nem conhecedor de vinhos o bastante para tal ousadia e, no mais nem tenho dinheiro para variedade, seria um Campo Largo e nada mais, suave pois o seco é ruim demais.

Já não me contento com a situação de não lhe cruzar, antes quando não à queria sempre lhe via, quando meu desejo era ficar longe da tentação que é você, o destino sempre fazia com que nos trombássemos. Agora parece também ter ficado do meu lado, me proporcionou tempo para que pudesse desenvolver minhas estratégias, sem deixar espaço para margem de erros.

De supetão lhe vi, descendo do ônibus no ponto enganado e dou de cara contigo, vou usar a tática meia dois nove, própria para encontros de supetão. – Você perdida por aqui? – Faz muito não lhe via. – Um encontro como este não deve passar em branco, vamos celebra-lo. – Fiz estes versos pensando em sua beleza “ plena flor ...” Ela para meu espanto aceitou, agora como eu conduzo a situação? Havia pensado em tudo realmente, menos em um final feliz.

Marco Cardoso
Enviado por Marco Cardoso em 12/09/2005
Reeditado em 12/09/2005
Código do texto: T49714