O valor das coisas

Não podemos negar que sábias são as palavras dos nossos antepassados e como dizia minha avó “Ninguém é melhor do que ninguém.” Por isso quando baixou em mim a arrogância, a audácia de achar que sou, que posso, que faço, que compro tudo que quiser... foi exatamente aí que despenquei de vez, o tombo foi feio e acabei quebrando a cara.

Estava no auge da minha juventude e beleza! Cursava faculdade, muitos garotos aos meus pés, era dona de corpinho lindo, sem nenhum problema financeiro, enfim tudo conspirava a meu favor. Estava com a auto estima tão alta que não olhei pra baixo e pisei em meus amigos, meus parentes e magoei muita gente!

Esnobava minha beleza deixando as meninas feinhas sem graça, exibia meu Cross Fox blindado e ria dos carros dos outros chamava-os todos de lata velha ou banheira.. Dizia em alto e bom tom as gargalhadas, estava tão na minha que não percebi que a cada dia eu estava sozinha, fui parando de ir a festas, reuniões de famílias, barzinhos, viagens com amigos, e quando ficava sabendo já tinha acontecido uma coisa qualquer entre eles e ninguém havia me convidado.

Percebendo que não conversavam mais comigo evitavam-me e quando eu chegava ficavam sem assunto. De repente se eu reclamava que não estava sendo avisada para tal festinha um dizia: - “Foi coisa simples não ia lhe agradar”

- “Foi festa de pobre” - “não tinha luxo” de vez ou outra ouvia... - “Vai procurar sua turma os do champanhe e caviar aqui é churrasquinho."

Um belo dia de domingo sem amigos, nem nada pra fazer e nem pra onde ir, comecei a lembrar das risadas com as meninas, das paqueras na praça do cachorro-quente na barraquinha do seu Juca!

Senti saudades, um vazio, uma tristeza me pegou naquela hora. De que adianta tantas roupas sem ter pra onde ir, tantas joias sem que ninguém admire, carros, dinheiros, onde estão todos? (digo todos os meus não esse bando de falsos amigos que me cercam.) Com certeza divertindo-se nesta bela tarde. e com certeza nem se lembrando de mim. Eu já não fazia parte do mundo deles, e o mundo do qual eu estava vivendo não conseguia encontrar amizade verdadeira, entre aqueles que me rodeavam eu sentia que cada olhar era sem enxergar, cada sorriso era gelado e pura pose, cada abraço não tinha calor e os apertos de mão era certo de que se eu não tivesse grana eu não estaria os teriam.

Então entrei no meu possante e fui visitar minha velha e querida avó, que estava na varanda vestida com um vestido de chita e sentada numa cadeira de madeira crua. Vovó estava de olhos fechados mas com um sorriso nos lábios. Olhei a casa dela tão pobre com lindo e simples jardim, e ela sorrindo... Me permiti deitar a cabeça em seu colo e comecei a chorar, ela fazia cafuné nos meus cabelos, contei o motivo da minha tristeza vovó disse: - Desce do pedestal minha filha, pois ninguém é melhor do que ninguém, pra ser feliz não precisamos de coisas e sim de valores.

De volta pra casa melhor que antes senti a alma lavada e depois de um gole de café forte peguei o telefone e liguei para as meninas...

- Alô! Selma, oi querida como você está tudo bem? Quanto tempo! E como vai sua mãe ela melhorou da enxaqueca? -Nada Sel só estou ligando para dizer que estou morrendo de saudades. Aparece aqui quando puder. Abraço meu em todos aí e um especial pra você.

E assim fiz com todos meus amigos que depois de alguns telefonemas não ficaram um só dia sem me dar atenção e carinho.

Que bom, acordei a tempo.

Texto: Lediene Nunes

Lee Nunes
Enviado por Lee Nunes em 30/09/2014
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