PODEROSA POR UM DIA

Chegou em casa muito ansiosa após passar horas no shopping escolhendo a roupa que usaria no casamento. Aqueles dias que antecediam a cerimônia eram de muita expectativa. Escolheu o melhor e o mais bonito vestido. Afinal, iria ser madrinha de casamento do patrão. O traje teria que ser caprichado. Abriu o embrulho, pegou o vestido. Olhou-o, cheirou-o, olhou-o novamente, cheirou-o mais uma vez. O vestido era lindo! Lilás, com fragmentos brilhantes. Ela o colocou e olhou-se no espelho. Ficou perfeito! Sob medida. Ainda realçava os contornos de seu corpo. O vestido era bonito, mas ao mesmo tempo lhe parecia estranho, pois o que era aquela roupa para uma pessoa que nunca usou um vestido longo? Um traje a rigor? Todo aquele tempo ante o espelho foi para ver se aquela pessoa trajada de maneira tão elegante era a mesma que andava sempre de jeans, tênis e blusinhas de malha. A roupa faz a pessoa? Ou a transforma? Pensava ela. Ou será que era as duas coisas? O fato é que dentro daquele vestido ela era outra pessoa. O vestido lhe conferia elegância e a deixava mais poderosa. Ela continuava olhando-se no espelho. O vestido lhe dava tudo, porém, ela não se sentia a vontade dentro dele. O vestido era comprido mas parecia que lhe tolhia os movimentos. Todo aquele poder que ele conferia também passava insegurança. Aquela roupa nunca substituiu seus jeans e suas blusas de malha, por isso aquela sensação de poder lhe era estranha. Tirou o vestido e colocou a bermuda, a roupa de ficar em casa. Guardou-o com todo esmero dentro do roupeiro. Olhou-o mais uma vez. Ele a fez outra pessoa, disso ela tinha certeza.

O vestido combinaria com um sapato de salto. Ela passou horas no shopping procurando um sapato tão bonito quanto o vestido. Encontrou um sapato muito bonito e adquiriu-o. Colocou o vestido e os sapatos. Combinação perfeita. Mas havia um porém: seus pés nunca haviam calçado sapatos daquele tipo. Antes de usá-los era necessário um “treinamento” a fim de manter a postura, o equilíbrio e a elegância. O jeito foi buscar ajuda com uma especialista em etiqueta e estilo. Em poucos dias, ela já esbanjava elegância com os sapatos de salto. Os cabelos precisavam apenas de um pequeno tratamento e a maquiagem não precisava ser forte. Pronto! Agora era só aguardar o dia do casamento do chefe. Eram doze anos trabalhando na empresa dele. Ela entrou na empresa quando ainda era adolescente. A relação empregado/patrão patrão/empregado existia, mas o que prevalecia era a relação de amizade. Não somente entre ela e o chefe, mas entre todos os que trabalhavam lá. Um ambiente bastante familiar. A empresa era sua segunda casa.

Chegou o dia do casamento. Ela passou algumas horas da manhã no cabeleireiro. Seus cabelos ficaram mais volumosos e brilhantes. A hora da cerimônia se aproximava. Colocou o vestido, os sapatos, passou a maquiagem... o que se via era uma mulher muito elegante, muito bem produzida. Ela tinha certeza de que sua produção surpreenderia a todos, pois ninguém nunca a viu trajada daquela maneira. Nem ela mesma. A primeira pessoa que a viu com aquela roupa foi uma amiga que também era sua companheira de trabalho. A reação da amiga não podia ser outra. Arregalou os olhos, abriu a boca, colocou a mão no rosto e depois de alguns segundos calada, sem saber o que dizer, conseguiu exclamar: “Meus Deus! Como você está linda!” Ela disse: “Só mesmo uma ocasião como esta para que eu me vista assim.” A amiga não parava de admirá-la e elogiá-la. Elas aproveitaram o ensejo e tiraram várias fotografias. Tudo aquilo era um indício de que seu visual causaria impacto. Foi exatamente o que aconteceu. Assim que entrou na igreja, todos os olhares se voltaram para ela. Os colegas de trabalho não conseguiam acreditar que ela era a mesma pessoa que trabalhava na empresa, que era aquela pessoa cuja qual conviviam praticamente todos os dias e dividiam funções. Era ela mesma. Foi elogiada por todos, sem exceções. Os convidados iam chegando e olhavam-na. Algumas mulheres faziam de tudo para que seus maridos não a observassem, o que era difícil, pois era quase impossível não notar aquela “miss” trajada de forma tão elegante e apresentando suas formas perfeitas. Algo que ninguém jamais vira. Aliás, não havia como saber se ela possuía formas perfeitas, porque as mesmas sempre ficavam escondidas. Algumas mulheres não disfarçavam a inveja quando a viam. Alguns homens suspiravam, deslumbrados. A cerimônia teve início. Antes de o noivo(o patrão) entrar na igreja os padrinhos e madrinhas caminharam lentamente pelo corredor central do templo ao som de um belo instrumental. Ela entrou com um leve sorriso, junto ao padrinho, um colega de trabalho dela. Os fotógrafos se acotovelavam para conseguir o melhor ângulo, a melhor posição para obterem a melhor imagem dela. Os câmeras também tentavam filmá-la bem de perto. O noivo(o patrão) entrou logo depois, acompanhado da mãe, uma senhora sorridente. Os fotógrafos registravam todos os passos dele. Ao chegar no altar ele deu uma piscada de olho para os padrinhos e madrinhas como que dizendo: Sensacional! Foi linda a nossa entrada! Enquanto todos aguardavam a chegada e entrada da noiva, os fotógrafos não paravam de retratá-la. Ela, a madrinha de casamento que era um assombro. A noiva não demorou a chegar. Linda! Bastante emocionada. Fez uma entrada triunfal. Durante a cerimônia os câmeras filmavam toda igreja. Igreja que estava toda enfeitada, com uma iluminação especial. Os câmeras também não deixavam de filmar a madrinha do casamento um instante sequer. Os olhares ainda eram voltados para ela. Ao término da cerimônia os recém-casados deram o tradicional beijo e todos aplaudiram. Ela foi fotografada aplaudindo o casal. Durante os cumprimentos o foco também era ela. Na festa só dava ela. Até quem não a conhecia não perdia a chance de ficar perto dela ou de tirar fotos com ela, que dava atenção a todos, com simpatia e bom humor. A festa acabou. Chegou em casa, tirou o vestido, os sapatos e a maquiagem. Ela brilhou. Disso ela tinha convicção. Não foi tão ruim sentir aquela sensação de poder. Era incômodo, às vezes, mas não foi ruim. Poderosa por um dia. Será que haveria uma outra oportunidade?

No dia seguinte, ela foi o alvo dos comentários e todos elogiavam-na. Os tênis, as calças jeans e as blusas de malha voltaram a dar o tom. Quem ficou com uma pontinha de ciúmes foi a mulher do patrão ao ver as filmagens e as fotos do casamento. Pois é muito difícil em uma cerimônia de casamento que alguém chame mais atenção que a noiva. Ela foi uma exceção. Ela conseguiu.

Alveres
Enviado por Alveres em 04/10/2014
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