CORAÇÃO SINGELO

Dores. Era isso que sentia o pequeno Juca todos os dias no hospital. Garoto de apenas cinco anos, porém de uma natureza singela fora do comum. Juca tinha câncer, e já se havia passado três meses que estava internado no hospital.

- Umas duas semanas, é isso que Juca ainda agüentará. – diz o médico por detrás da porta. A mãe, em meio a lágrimas agradece todo esforço feito pelos médicos. A porta se abre, a pobre senhora caminha em direção ao filho, e como um último modo de transpassar seu amor, pede ao filho que faça qualquer desejo. Independente da dificuldade, ela haveria de realizá-lo. Sem grande cobiça, Juca diz à mãe que gostaria de conhecer o circo.

Já era noite quando Dona Leonor, mãe de Juca, chegou ao circo com seu filho. Sentaram-se na primeira fila. Pipoca, refrigerante, algodão-doce, esta noite haveria de ser especial. Ao adentrar o palco os enormes animais, os olhinhos de Juca brilhavam como se aquilo fosse o ápice. A cada brincadeira do palhaço, uma nova gargalhada. A mãe do garoto fabulava sorrisos, mas por dentro o coração se flagelava.

Fim do espetáculo, a hora de Juca retornar ao hospital havia chegado. Nas próximas duas semanas que se seguiram, Juca sonhou com todos aqueles personagens, o palhaço, com suas cambalhotas, o mágico com um enorme coelho na cartola, e claro, com todos animais que havia visto.

- Alô, senhora Leonor? Venha para o hospital urgente! – é anunciado pelo médico. A pobre mãe chega à instituição e desloca-se direto para o quarto de seu filho. Chegando, avista o medico ao lado do menino, dizendo a tão temida frase, - Ele esta partindo... Sinto muito.

Dona Leonor em meio a lágrimas segura na mão de seu filho, – Meu filhinho amado, estive contigo quando nasceste e não queria estar contigo ao morreste. Mas não temas, papai do céu há de te guiar entre os céus para um lugar bonito. – Assim disse a mãe, que antes de usufruir o silêncio, escuta o filho dizer, - Mamãezinha, obrigado por tudo, não se preocupe comigo, a morte é fria apenas para quem não tem amor. E ninguém recebeu mais amor nesta vida que eu. – E assim, o menino pereceu.