LEITO DE MORTE

O seu terno era branco, não combinava, tinha olhos triste e estava parado na porta com seus cotovelos ruídos, tinha uma mentalidade, tinha ideias, mas não falava, não havia ninguém para falar, estava ali pela morte.

-Como ele morreu? - disse o homem parado na porta.

Havia trés pessoas no velório, uma moça de pele branca, olhos de fenda fina e boca larga, parecia ter mais idade, mas vestia roupas juvenis e tinha uma tatuagem na perna, um lagarto, o outro, que devia ser o companheiro dela, pela intimidade felina ou pela maldade que trazia na minha cabeça, segurava a mão dela com sua mão esquerda e com a direita tocava o cachão, sujeito trite, pelos olhos, pelo bigode preto e cheio que não combinava com o rosto redondo, um homem calvo , tinha o habito doentio de balançava a cabeça dizendo.

-Que pena, era tão bom !

Eu estava ali porque era um parente, um primo distante do homem no caixão , único vivo, nunca o conheci bem, o morto não foi uma pessoa moral, trapaceiro, foi um crápula, agiota . Obrigação de parente, eu fui, mas antes recebi um oficial de justiça na minha casa que disse que ele era minha obrigação.

-Como ele morreu,? - perguntou o homem de cotovelos ruídos.

-Apareceu morto – disse a menina.

-Assim sem mais sem menos? - disse o homem na porta, coçava o cotovelo uma ou duas vezes por minuto.

-Era cirrótico – disse a menina, que parecia conhecer o meu parente – bebeu muito.

O homem careca olhou para o senhor na porta e perguntou.

-O senhor quem é?

-Quero saber quem vai pagar pelo enterro? - disse o homem de cotovelos ruídos.

-Mil e novecentos – disse sem pensar – eu paguei.

-Temos que enterrar, tá na hora – disse o homem de cotovelos ruídos e mão pegajosas e longas.

Voltei para casa na rua oito, andando em calçadas tortuosas e cheias de buraco, parei um pouco e pensei que talvez a morte mais solitária do mundo signifique alguma coisa, que uma pessoa não pode morrer entre desconhecidos sem uma unica pessoa que lhe ame, um sobro de amor, algo espirital, algo que dê algum sentido para a vida ligeira que corre pelos dedos como água em dia de chuva fina. Solitários , somos tolos, porque passamos a vida toda perto de muitas pessoas e é claro que precisamos das pessoas, será que na morte será assim também?

Por que teimamos tanto em pensar só em nossa sombra, se a sombra que nos protege do sol é a do outro.

JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 10/10/2014
Reeditado em 10/10/2014
Código do texto: T4993717
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