Vanda, 32 anos, mora na zona sul do Rio no bairro de Botafogo, trabalha durante o dia como copeira na Real Beneficência Portuguesa, a noite cuida de idosos, faz o chamado “bico”, e assim engorda o seu parco salário. Certa noite cruzou comigo na entrada do prédio, batemos um rápido papinho, já que éramos vizinhas, queixou-se do dia cansativo, me deu boa noite e se recolheu aos seus aposentos.
Lá pelas tantas da noite, uma família aflita precisava dos préstimos da Vanda, e naquele momento, para chegar até a residência da tal família, teria de passar por dentro do tapume das escavações do Metrô Botafogo, tremeu nas bases, sabia que obrigatoriamente tinha que passar no corredor perigoso e escuro, era tarde da noite, mesmo assim fez sua oração, pediu proteção ao seu anjo de guarda e partiu para o seu labor, mulher de coragem! Não deu outra, quando adentra na rua protegida pelo tapume, viu que no fim daquela passagem, havia uma tocha, novamente tremeu, repetiu seu pedido de proteção a Deus e seguiu.
 
Em sua bolsa, apenas seus documentos e alguns insignificantes trocados, como era fumante, levava dois maços de cigarros, foi sua salvação, a cada passo dado mais se aproximava do perigo, finalmente o inevitável, passar por aquela figura de mais ou menos um metro e oitenta, seu coração quase saindo pela garganta, foi abordada como esperava, e a esperada frase - passe a bolsa,! A moça, confiante, não esboça nenhuma reação, e naquele mexe e remexe a procura da grana, não encontrou tanto quanto desejava, pegou os maços de cigarro e devolveu-lhe a bolsa e lhe disse - vá embora, não conte pra ninguém que fui bonzinho com você.
 
Que alívio, dizia ela por dentro, conseguiu sair dali ilesa da maldade daquele brutamonte, ajoelhou-se, pôs sua testa no solo, e mais uma vez agradeceu a Deus, pois ter a chance de poder continuar viva depois desse sufoco, é uma benção maravilhosa. Diz o velho ditado, quem não anda com Deus, não teme assombração.