Éramos nós

Dias nublados.

Vento gelado.

Pensamentos vagos.

Apenas vírgulas procurando palavras, e muitas interrogações desesperadas buscando o final de uma frase que não consegue se formar.

Um ponto final? Não se sabe ainda.

Eles eram mais amigos do que irmãos. Ora mãe e filho, ora pai e filha. Era bonito vê-los assim. Um sabia tudo do outro, não existia segredos entre eles, mas um respeito fenomenal sobre os assuntos compartilhados.

Agora tudo mudou. As conversas são cercadas de temores e tremores, mãos geladas, suor frio. Falta intimidade. Não há mais liberdade no falar, e sim um forte e ostensivo auto-policiamento. A voz que antes soava macia e tranquila, agora é pesada, e em um tom por ela desconhecido.

Sobraram as lembranças das risadas extravagantes enquanto viam um filme e alguém falava em uma certa "bailarina de topless", das longas conversas madrugadas a dentro, de andar de mãos dadas, e de se divertirem quando alguém os confundiam com amantes.

Saudade da cumplicidade, da dor repartida, da alegria compartilhada, do sorriso no encontro inesperado, das brincadeiras, dos jargões.

Que tempos bons, quando ao atender uma chamada se ouvia:

-Fala Potênçia... Você é uma autarquia.

Não fazia muito sentido, mas o que importava era o efeito que isso causava. Era a certeza que a conversa prometia ser muito boa, por mais que o assunto fosse devastador.

Assim era ele, assim era ela, assim eram eles.

Hoje, tudo está muito mudado. Ele traiu sua confiança. Ela o perdoou, mas nunca mais se avistaram, e o que ela mais tentou evitar, não conseguiu, porque o amor dele ao dinheiro ultrapassou todos os limites.

Sobrou um silêncio ameaçador, e uma incerteza.

Éramos nós...

Fomos nós...

Querida
Enviado por Querida em 22/11/2014
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