Mudando

Tá certo que o outro deve nos aceitar como somos. Mas, seria muito egoísmo não mudar por orgulho, simplesmente para impor o nosso jeito orgulhoso (para não dizer prepotente) ao outro. O primeiro passo para a mudança é saber que podemos melhorar. A melhoria é um processo de mudança, o melhor dos processos!

Ela sabia disso. Vivia se doando. Ajeita daqui, ajeita dali, de cá e de lá. Era muito vaidosa. Cuidava da aparência e vivia mudando, mas, mais por dentro do que por fora. Ela achava que, se doando assim, seria mais cobiçada por ele, mais amada por ele. E, mesmo desejando isso, não exigia nada em troca, não era interesseira, só era amor.

Ele, o tipinho de garoto de fazer qualquer filme pra adolescente dispensar. Ele não era o padrão. Mas, encantava. E como sabia fazer isso! Não era tão bonito, mas também não era feio. Se demonstrava simpático, parecia legal. Sim, ele era legal. Isso conquistou muitas garotas, e garotos também, por que não?

A dama da doação sabia de toda a sua rotina, o que ele fazia, de que gostava, com quem andava. Não que ela o fitasse, o perseguisse, o espionasse. Ela intuía. Pressentia quando ele se aproximava, pois seu coração não se enganava, costumava ter arritmia nessas horas. A dama não fazia nada, era tímida, apenas amava, e se contentava com isso.

Ele começou a notá-la, não com interesse, mas com temor, um desprezo de quem achava que estava sendo seguido, e ela, achando que fora finalmente notada. Criou coragem para fitá-lo, viu seus olhos profundos, sentiu vergonha, parou, mas gostou.

O senhor do amor dela queria saber mais sobre a dama, o que fazia e por que o perseguia. Achou que esta era louca, que nutria uma paixão intensa e platônica por ele, o que, dependendo do ponto de vista, não era verdade não. E só por saber disso irritou-se, não queria nenhuma “esquisita” o cercando. Sim, ele a achava esquisita simplesmente por não conhecê-la e achar esse sentimento que tinha por ele, estranho. Começou a ignorá-la. E ela, cada vez mudando mais para encantá-lo. Sorria mais, mexia os lábios como quem fosse cumprimentá-lo, ousava mais nas roupas (e ainda sim, discretamente). Começou a despertar os olhares de todos em volta, mas o dele...

Fora isso, ele não tinha defeitos.

Ele esperou-a com a declaração que imaginara que ela faria, o que nem sequer passou pela sua cabecinha cheia de mudanças damáticas. Irritou-se novamente, ainda mais com seus amigos babando por ela.

Ele quis fazer diferente. Também quis mudar. Mudou tudo. De simpático a orgulhoso. Mudou seus passos, suas amizades, seu lazer, até os momentos destinados a não fazer nada ele mudou. Quis livrar-se dela, quis ignorá-la, ser indiferente. E fracassava. E odiou-a.

Mas, a dama, linda de mudanças sinceras, sabendo que ele mudou a rotina, foi lá e mudou os sentimentos... e continuou linda como sempre fora! Afinal, mudança é doação. E ela, finalmente, doou-se para si.

Escrito em 28/11/14.

Taillany Mesquita
Enviado por Taillany Mesquita em 28/11/2014
Reeditado em 29/11/2014
Código do texto: T5051965
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