Curtindo a pedra

O fim da nossa viagem nos pegou na rodoviária, onde tudo havia começado, de certa forma. Estamos sentados no banco desconfortável, logo a nossa frente, a Maria Fumaça desativada. Chuva caia impiedosamente, e juntos, esperávamos pelo ônibus que nos levaria de volta ao Estado de São Paulo. Como eco dos nossos últimos dias, estamos falando bobagens e rindo. Aos nossos pés, as malas, e entre nós, uma garrafa de licor. Muito manjado para não ser real. Ele me pergunta meio curioso se eu nunca tinha bebido na “rodo”, não, nunquinha, era mais uma experiência única que ele estava me fazendo passar. Eu sabia que estava chegando ao fim, e estava com saudades do que ainda não tinha acabado. Tudo acabaria perfeitamente se eu não tivesse feito outra coisa única, misturar a bebida com o dramin. De fato, se o ônibus não tivesse atrasado, eu poderia ter babado no ombro dele sem pagar de irritante. Bem, eu sou chata com sono, bêbada e com remédio pra enjoo misturado, insuportável, não é mesmo?! Não ousem concordar!

De fato, o fim da nossa viajem fantástica se deu mesmo comigo subindo no ônibus que me levaria para a minha cidade natal. Aquela hora foi triste, quando não pude colocar a mala dele no bagageiro, só a minha. O abraço apertado, e o tchau quando pisei no primeiro degrau me deixa nostálgica, mas penso que o prazer de poder reencontrá-lo, tornará esses momentos um tesouro.

E como todo fim tem um começo, o começo foi mesmo uma coisa casual, há seis meses. Se eu imaginei que ele entraria na minha vida por aquela porta, não, jamais, mas ele entrou e só faço agradecer por isso. Todo charme latino e todo sorriso e aquela maldita sinceridade de bêbado o torna um cara que apresenta uma amizade que todas as pessoas do mundo deveriam experimentar. Algumas pessoas despertam emoções em você, que a gente não sabe definir, o que é bom, pois nos faz pensar o motivo delas estarem com a gente, e mais, querer manter essa amizade. Algumas pessoas, a gente não quer que saia da nossa vida. Ele é uma dessas pessoas.

Quando nós chegamos em nosso destino, eu estava rouca, ou quase. Se teve uma coisa que nós fizemos em quase uma semana juntos, porra, foi falar. Falamos e falamos e falamos. De tudo e de nada. E nós rimos, e brincamos e tiramos sarro um do outro e outras coisas que as pessoas que se dão bem fazem. Obviamente a bebida nos fez companhia e até uma bala vencida nos encontrou nas camas de pedra daquela cidade. Uma cidade que me foi apresentada pela melhor companhia. Se posso dizer uma coisa, é que, não me importou um nada o local que estávamos, se vendo filme no quarto, na cachoeira, na estrada pegando poeira, nos restaurantes engordando, fazendo compras, deitados para deleite dos que ainda estavam bons o suficiente para nos ver meio escondidos pela árvore, sentados na praça, que fosse, tudo seria pior sem a companhia dele. O melhor lugar é, e sempre será, a companhia. A tua companhia.

Quando os fogos do primeiro dia do ano estouravam no céu daquela pequena cidade mineira, e nos abraçamos e desejamos feliz 2015, eu tinha certeza que assim seria. Como posso ter tanta certeza se o ano ainda só tem cinco dias? Não posso. Eu sei.

05/01/2015

19:26

Lady – Little River Band

Edivana
Enviado por Edivana em 06/01/2015
Código do texto: T5092594
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