Coisas do subúrbio

Jurema é dessas pessoas que a gente sempre encontra pelas ruas do subúrbio. Faxineira, modesta, de vida pacata que dedicava todo tempo e salário na educação da única filha. Por isto, estranhei encontrá-la naquela manhã, incomodada com a cadeira giratória do salão de beleza.

Como era meio de mês, salão vazio, pudemos compartilhar de uma prosa descontraída enquanto cuidávamos da beleza.

Contou-me muito orgulhosa, que sua filha, Elaine, havia passado no vestibular. Estudaria Direito na Universidade Federal do Estado.

_ Estou tão feliz, dona Rosa, que não durmo a três noites! Falou com os olhos lacrimosos.

Se tratando de filhos a gente voa longe e alto! Toda mãe, nessa terra de meu Deus, vive a tecer os mais lindos sonhos para os filhos. Não me contive e a abracei feliz. E era justificado querer ficar bonita para comemorar o feito da menina.

Quisera eu! A anos que espero festejar também, mas, meu filho João Pedro, ao contrário de Elaine, nunca valorizou o esforço do pai.

Três anos seguidos tentando vestibular, e nada. Um dia, tenho fé, vai acontecer, e quando acontecer não será razão de alegria, mas de grande alívio! Haja dinheiro para bancar tantos cursinhos e apostilas que até penso que deveria existir uma cláusula nos garantindo também, caso os filhos fracassem.

Jurema, mirou-se ao espelho e admirou-se.

_Vichi! Tô parecendo celebridade com esse cabelo alisado.

_Sim! Porém, muito mais feliz!

Marisa Rosa Cabral

Marisa Rosa
Enviado por Marisa Rosa em 01/06/2007
Reeditado em 27/11/2017
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