POSTURA INTRIGANTE

No início do mês de maio de 2014 fui contratado por um dos filhos de uma senhora, para realizar serviços de pintura diversos na casa de seus pais.

Por questão de discrição, doravante, denominarei a referida senhora pelo nome fictício de Sr.ª Lima.

Embora a Sr.ª Lima tenha uma boa condição financeira e a sua casa seja situada em uma rua totalmente urbanizada, em um bairro tradicional e relativamente central na cidade de Belo Horizonte MG, ela gosta de criar galinhas em seu quintal.

Tudo muito bem cuidado e o galinheiro composto com umas quinze galinhas e um galo, encontra-se locado ao lado de uma edícula existente no mesmo terreno.

Certo dia eu me encontrava sobre o telhado do galinheiro, pintando o lado externo da janela da edícula, quando a Sr.ª Lima aproximou-se, calçou um par de chinelos propositadamente deixado próximo à porta do galinheiro e adentrou no aviário sem cerimônia.

Dentre as tantas opções de que dispunha, apanhou uma galinha, conferiu se tinha ovo e a colocou dentro de uma lata vazia de tinta, emborcando-a contra a parede.

Segura de si apanhou outra penosa, repetindo o mesmo ritual anterior.

Meio sem graça procurei não deixá-la perceber que eu presenciara a cena. Embora creia que, dada a naturalidade com que procedera, em nada afetaria caso eu não mantivesse a discrição.

Passada mais ou menos uma hora a Sr.ª Lima voltou para conferir se as galinhas confinadas haviam botado, mas não havia ovo em nenhuma das duas “reservas”.

Uma coisa me deixou intrigado: dentre tantas outras galinhas, como a Sr.ª Lima apanhou exatamente os dois exemplares prestes a botar?

Fui almoçar com essa indagação.

Ao retornar do almoço, aproveitei que a Sr.ª Lima estava por ali e perguntei: Lima, as galinhas botaram?

A Sr.ª Lima me respondeu afirmativamente, concluindo: “quando elas estão prá botar elas ficam desorientadas, andando de um lado para outro, até eu colocá-las nas latas”.

Essa explicação espontânea me poupou de perguntar a ela, como é que ela sabia que exatamente aquelas duas galinhas estavam para botar.

Aproveitei a oportunidade e lancei outra pergunta, quase conclusiva: então elas gostam que você as coloque dentro das latas?!

A Sr.ª Lima me respondeu que sim e que emborcava as latas contra a parede porque, caso chova, não corre o risco de encharcar o saco que ela dispõe dentro de cada lata para amparar o ovo.

Achei a explicação interessante e completei: então elas se acostumaram com essa realidade não é? Porque as galinhas, de um modo geral, botam aleatoriamente em qualquer lugar.

Ao que ela assentiu.

Pensando melhor sobre o assunto, conclui que, contrariamente ao que eu até então pensava, de fato as galinhas, quando estão prestes a botar, mesmo estando soltas, em um galinheiro ou não, procuram um lugar mais protegido onde possam fazer as suas posturas sossegadamente.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 20/01/2015
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