A colecionadora de homens e amores vazios

Então ela finalmente se casou.

Cerimônia simples, recepção elegantíssima, pouquíssimos convidados.

O vestido, de linhas retas, acompanhava o cabelo curto e meticulosamente penteado com classe.

Tudo perfeito.

Na noite de núpcias, ele, 25 anos mais velho, se desdobrou para satisfazê-la como um homem da idade dela faria.

E assim, passado o impacto inicial de vê-la casando com um marido que mais parecia seu pai, passaram a viver satisfeitos com as escolhas que fizeram.

Ela cheia de planos para a conta bancária dele, ele, se sentindo revigorado e dez anos, não! Vinte anos mais jovem.

Viagens, jantares caros, roupas de grife, carros importados e um mundo de deslumbramento que o dinheiro compra assim como uma esposa 25 anos mais nova.

O problema é que até mesmo uma vida cheia de glamour um dia acena com o tédio e a dela, inevitavelmente acenou.

As conversas se tornaram enfadonhas primeiro devido à diferença de idade, afinal 25 anos são... bem, um quarto de século. E isto não é pouca coisa!

Depois foi a aparência: ela no auge da beleza madura de seus 45 anos, ele na decadência irreversível de seus 70, formavam um casal bonito: de pai e filha.

Assim, não foi surpresa que, acabada a paixão e o suposto amor inicial, ela voltasse os olhos para homens que não precisassem de recursos farmacêuticos para encontra-la na cama em intervalos quinzenais.

No início se contorceu de remorso ao vê-lo dormindo alheio aos pensamentos que a atormentavam: festas, amigos, risadas, bebida e não os passeios enfadonhos de barco ou os hotéis caríssimos com seus vinhos raros. Uma chatice sem fim!

Não trairia, era fato, mas também não suportava mais vê-lo na luta diária com os cabelos ralos pintados toda semana e nem as roupas que ficariam bem nele 30 anos antes.

Um dia quis sair sozinha, espairecer, dar uma volta pela cidade para colocar a cabeça no lugar.

Ele quis argumentar que a acompanharia, mas se calou diante da insistência dela.

O encontro veio como obra do diabo.

Ela bebia um suco quando ele entrou.

Baixo, atarracado, cabeça rapada, barba por fazer, perfume barato e conversa típica e malandra.

Naquela noite, ao deitar ao lado do marido que já roncava, não conseguiu dormir.

No dia seguinte, escolheu um vestido caro. Vestiu-se e elegante como nunca, voltou para outro suco.

Ele estava à espera e sorriu diante da “dama”. Ofereceu um café em copo de requeijão e ela aceitou deliciada. Depois veio a cachaça, o bolinho de carne, as mãos sujas de gordura.

Daí para o romance foi uma chispa.

Ela andou de ônibus e bebeu cerveja barata enquanto era novidade. Depois quis conhecer outros mundos, casou mais duas vezes, separou.

Hoje está muito bem casada com um homem correto e religioso 15 anos mais novo do que ela.

Dizem que se converteu, mas recentemente se sentiu muito inquieta com o tédio que começa a acenar.

O marido, o primeiro, ficou bêbado por seis meses, depois ponderou, comprou um carro novo, colocou o juízo no lugar e se casou novamente com uma moça do interior de apenas 27 anos de idade.

Segue sorridente se sentindo amado, feliz e jovial até que a morte os separe, o dinheiro acabe ou a esposa resolva tomar suco em algum boteco da cidade.

Assim é a vida, assim se resumem alguns “amores”.

Assim se definem alguns valores.

Nem todos, felizmente.

Que alívio!

Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 06/02/2015
Reeditado em 06/02/2015
Código do texto: T5127816
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