Holocausto DE MARIA
      -Eu odiava tudo na vida– jogou o cigarro no lixo – e amava essa mulher, o problema foi a independência dela me torturava – falou ele de frente para o espelho – conversando demais, falava demais, não casei com uma mulher independente que tinha ideias – sorriu para o espelho e continuou falando - queimei a mão dela porque não sabia fazer macarrão, uma merda de uma macarronada, queimei com meu esqueiro, depois dei um tapa na cara dela – andou um pouco e suspirou, tinha as mão suadas e a barba por fazer, homem baixo, intrigante com seu bigode fino e o corpo desenhado por uma disciplina militar para exercícios físicos, suas mãos suadas tocaram a superfície fria da cadeira, estava vestido apenas de cuecas e meia.Parou de respirar alguns segundos, precisava de outro cigarro, mas havia fumado o último, pensou em ir comprar, mas havia aquele desanimo, a droga de desanimo.
     -Puta que pariu, são seis horas, tem doze que não como nada.
     Pensou em ir até a cozinha.
     -Merda de mulher, não sabia fazer um macarrão.Aquela cozinha está uma porra de bagunça, minha mãe não era assim, não dormia sem lavar a louça.
     Olhou para o corpo dela no chão, o corte na barriga e o sangue escorrendo, vermelho vivo, agora parecia linda, quieta como uma boa esposa.
     Pensou no dia que a conheceu, nas flores amarelas, igreja e toda a merda convencional, vestido caro, carro alugado, tudo que ele queria era tocar na pele dela, sentir o seu cheiro.
     -Por que me traiu? – gritou, mas sabia que ela não havia traído, foi tudo mentira, tudo coisa daquela voz na sua cabeça, mas o que estava feito não pode ser mudado, um dia ela trairia, foi assim com a mãe dele e aquele motorista de ônibus, ele escutou tudo, o pai trabalhando de sol a sol e ela como uma vagabunda...
     Pegou a arma e apontou para a própria cabeça, antes lembrou do filho , da filha e dos dias de sua infância, quando acreditou no mundo e na felicidade possível, que sentimento estranho sentiu por aquela mulher.
     Sim....O que era certo não tinha desculpas, sempre que tinha razão batia nela e na filha, bateu no filho também, queria a obediência ,respeito e amor, ele colocava comida em casa, Antônio não recebia nada disso, nem amor, nem respeito e nem reconhecimento por trabalhar na merda do supermercado, com o puto do gerente.
     Ela ao contrário parecia feliz, uma felicidade que incomodava, ficava sorrindo para o vizinho, rebolando pela rua e colocava aquelas roupas só pra provocar.
     E quando queria fazer o sexo daquele jeito sujo?
      -Você é puta mulher?– ele segurava o cabelo e batia na cara – voce é uma puta de zona, rampeira, se faz de cristã, onde aprendeu essa sujeira?
      Ela ficava calada.
      -Fala mulher, tá me traindo, aprendendo isso com homem na rua? – ele gritava.
      Olhava com olhos de gato preso, muito frio e ela era uma presa fácil que estava prestes a morrer, pois ele dizia.
      -Prefiro ficar viúvo a me separar.
       Ela chorava nos cantos, naquele dia ela gritou com ele, disse que estava preparada pra morrer, ele riu, ela disse que ia embora e levaria os filhos, ele pegou a faca na cozinha.
        -Sai pela porta que arranco o seu coração com isso aqui. Você é minha Maria, minha, eu peguei você, casou no papel passado.
        -Pois pode arrancar se for homem, prefiro o diabo a você.
         Ele enfiou a faca tão rápido que ela nem percebeu a morte chegar, na barriga, depois puxou até em cima como se quisesse abrir a mulher no meio, rodou o cabo e enterrou um pouco mais, o corpo dela seguro pela mão esquerda ficou mais pesado, pois o espírito deixa o corpo mais leve.
      Deixou o corpo cair.
     -Viu o que me obrigou a fazer.
     Não,... ela não via mais nada, não sorria mais, nem mesmo sofria mais.

 
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 04/03/2015
Reeditado em 04/03/2015
Código do texto: T5157955
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.