Desenhista da Própria Vida.

Volta e meia, ela se perdia deliciosamente nas cores dos lápis de cor. E ao colorir o papel, como ninguém coloria, transmitia pra ele toda a intensidade do interior dela. A mesma intensidade que ela nunca revelava a ninguém. Esse era o segredo dela. Quem olhava os desenhos coloridos e a perfeição de cada detalhe admirava o trabalho da jovem artista, mas quem observasse os traços, admirava a mulher que nascia dentro dela. Porém para tal, era preciso um olhar mais cuidadoso. E poucos tinham. Não se sabe ainda se ela sentia medo ou prazer, quando alguém conseguia vê-la assim: pelo avesso, mas acredita-se que eram as duas coisas juntas, feito as cores que transformavam o papel em branco. Por vários dias ela se trancava no infinito particular do quarto dela e seguia pintando as horas. Quem via de fora, não entendia o jeito introvertido que ela tinha de lidar com o resto do mundo quando estava no meio de uma transformação, mas tudo era camuflado quando saía sorrindo mostrando o resultado sabiamente pintado. Era assim que ela coloria a vida. A falta de sorte do resto do mundo era talvez imaginar que nunca veria o quanto ela era bonita também por dentro. E a sorte convicta certamente seria da pessoa que um dia, conseguisse habitar em seu coração e ter o delicioso prazer de ser parte daquelas infinitas cores no papel em branco dela.

*Textos de Quinta - Para fugir da responsabilidade.

Um a cada quinta. Não é promessa, é desejo =)

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 12/03/2015
Código do texto: T5167331
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