A Garagem

O cheiro era insuportável, mas só para quem estava de visita, por casal que morava ali, já havia se acostumado com o odor que saia dos canos da privada que passava pela garagem. Kethilin e Wilderson, moravam ali, é, moravam ali na garagem, com mais uma criança.

Com 4 meses de namoro ela havia engravidado, ele usava camisinha no começo, mas com suas juras de amor eterno conseguiu convencer Kethilin a manter relação sexual sem preservativo. Por incrível que pareça, pela pouca idade dos dois, não houve demonstração de desespero e nem preocupação, e sim, ficaram entusiasmados com o acontecimento, ficaram anestesiados pela felicidade de terem um filho.

Já os pais de Kethilin ficaram indignados e revoltados , pois eles ainda eram quase crianças e muito imaturos. O casal estava cheio de sonhos, iria tem sua casa própria, morar juntos e constituir família. Eles não contavam com os abutres do ramo imobiliário e o sonho da casa própria foi adiado, na verdade foi aniquilado. Com um salario mínimo e meio de Wilderson não conseguiram finalizar a compra de uma casa em 120 vezes em suaves prestações.

Dessa forma, a família de Kethilin deixou que ficassem na garagem. No espaço minúsculo só coube a cama, fogão, guarda roupa e a pia, o banheiro teriam que usar na casa dos pais. Ficariam ali temporariamente, esse era o pensamento, até que ambos arrumassem um emprego com um salário melhor.

Esse “temporariamente” depois de 7 anos se tornou definitivo, se acostumaram - ou tiveram que se conformar - com a garagem e com cheiro indigesto.

As reclamações de Kethilin eram diárias, precisava de mais espaço, as roupas mofavam sempre, era desconfortante receber visitas. Wilderson também sentia uma certa inquietação: o sogro vivia dizendo para ele procura um lugar melhor, não tinha privacidade na sua própria casa, a criançada perturbava batendo na porta da garagem e o cachorro da sogra cagava todo o corredor.

Teve uma vez, que devido as brigas constantes entre Wildeson e o sogro, tentaram alugar uma casa, o aluguel levava quase metade do salario e dificultava cada vez mais a economia familiar , aumentando as dividas.

A criança estava grande para continuar a dormir na cama com eles, mas não tinha outro lugar, o casal perdia muito da intimidade. Mesmo com toda adversidade, desejavam mais uma criança, que segundo eles essa seria planejada. Não pensaram na questão estrutural de como ter mais uma criança morando na garagem. O planejamento para eles se resumia só na ideia de quererem ter o filho.

A garagem era uma felicidade só, Kethilin estava gravida do segundo, depois de muito tempo o casal estava em harmonia de novo.