Meu Reino Por Um Ventilador. = Histórias de Amor Safado

Eu estava quase conseguindo dormir quando ouvi uma voz que parecia falar diretamente aos meus ouvidos:

- Meu Deus! Que calor infernal…

Sozinho em meu quarto, naquele hotel mais do que ordinário, e único na região, virei-me para o canto e tentei pegar no sono de novo. Quase consegui. Logo ouvi de novo a mesma voz, com a mesma entonação e a mesma lamúria:

- Meu Deus! Que calor infernal…

Desta vez prestei mais atenção e percebi que era uma voz jovem, feminina, delicada, agradável mesmo de se ouvir. Fiquei curioso e levantei-me. Saí da cama disposto a dar um jeito de conseguir ver quem reclamava, com toda a razão, do calor que fazia naquela cidadezinha dos cafundós do Paraná.

Procura daqui, procura dali, acabei vendo um grosso prego espetado na parede, logo acima da cama que eu ocupava. Mexi nele e vi que estava frouxo. Arranquei-o da parede sem fazer muita força e o resultado não me surpreendeu: metendo o olho naquele buraquinho quase imperceptível, vi minha vizinha reclamona em sua cama. E era uma bela mulher, nua, a abanar-se com uma revista.

O melhor de tudo é que estava sozinha em uma cama de solteiro.

Mal comecei a olhá-la e ela se levantou, foi até a janela e a escancarou, dizendo como se tivesse alguma companhia:

- Que se dane o mundo…Quem quiser que me veja nua. Já não agüento mais esse sufoco dos infernos…Meu reino por um ventilador…De mão, que seja.

Mesmo com a luz apagada em seu quarto eu podia ver seu belo e bem torneado corpo muito branco. A luz da lua era intensa e invadia o aposento como uma boa lâmpada. Eu nunca apreciara tanto o luar como naquela noite.

A coitada chorava por um ventilador. Eu tinha um belo e eficiente ventilador em meu quarto, companheiro de todas minhas viagens feitas de carro, e teria muito prazer em compartilhá-lo com ela. Desde que, é claro, fosse em meu quarto. Já pensou se eu ofereço o ventilador, ela aceita, fecha a porta do quarto e fica com ele só pra ela? Aí seria eu a dizer a toda hora: “Meu Deus! Que calor infernal…”

Tomei coragem, vesti minha camisa e minhas calças, fui à porta ao lado da minha e bati:

- Moça, quero falar com você um minutinho. Pode ser?

- Depende. É alguma solução para esse calor dos infernos?

- Pode ser. Depende de você.

Ela abriu a porta, pôs apenas o rosto para fora e eu vi, pelo espelho encardido do armário, que continuava inteiramente nua.

- Eu tenho um bom ventilador e uma cama de casal bem larga. Estão os dois às suas ordens. Aceita?

Ela me encarou por quase um minuto antes de abrir a boca:

- Numa boa? Sem compromisso de envolvimento?

- Sem compromisso algum. A não ser o de me deixar dormir e não reclamar mais do calor em voz alta.

Ela riu, fechou a porta e logo depois voltava vestida em um pijama pra lá de antiquado, mas de pano fino.

- Vou correr o risco de dormir com um estranho pra não correr o risco de morrer sufocada.

- E eu vou correr o risco de dormir com uma estranha pra ver se consigo dormir. Você gosta de travesseiro alto?

- Só sei dormir com um assim, bem alto.

- Então pegue o seu, porquê o que tem no meu quarto parece um envelope de tão fino que é.

Ajeitamos-nos na cama, sem mais conversas, e logo depois ela dormia serena e profundamente enquanto eu examinava seu rosto à luz da lua que entrava pela bandeira da janela.

- Não é de jogar fora não…não mesmo.

Custei muito a dormir. Aquela presença estranha em minha cama, feminina, cheirosa, quentinha e quietinha, excitava-me e, ao mesmo tempo, parecia mais inacessível que qualquer estranha apenas passando por mim na rua.

Ao acordar senti uma ligeira opressão no peito e logo percebi que era a cabeça da moça que ali a ajeitara. Sem nem pensar no que fazia, comecei a fazer carinhos em sua nuca com a mão direita, enquanto com a esquerda sentia sua pele por baixo do pijama. Que pele macia e que calor gostoso…Deu vontade de ficar fazendo aqueles afagos pelo resto da vida.

À medida em que eu a acariciava ela se mexia suavemente, lentamente, e eu ia aumentando a região acarinhada e suspendendo ou abaixando partes de sua roupa. De seu enorme e folgado pijama de pano fino.

Eu não queria que ela mostrasse que estava acordada. Queria continuar com aquela brincadeira por um bom tempo e ela percebeu isso. Entregou-se como se estivesse dormindo profundamente, mas os bicos de seus seios denunciavam a excitação que lhe ia aumentando.

Ajeitei sua mãozinha direita para onde queria, fechei seus delicados e longos dedos onde os desejava, e continuei a explorar suavemente seu corpo com os lábios e mãos.

À medida em que ganhava meus carinhos ela ia ajeitando-se, facilitando tudo, entregando-se molemente, participando como se fosse em um sonho seu, realizando um sonho meu. Que eu talvez nunca tenha tido por falta de imaginação.

Beijei-a da cabeça aos pés, virei-a delicadamente de barriga para baixo, beijei de novo dos pés até a cabeça enquanto massageava seus delicados e bem torneados músculos.

Quando ela achou que a possuiria, parei e deitei-me de comprido ao seu lado. Completamente inerte, imóvel como um morto. Calculei em dois minutos o tempo que ela levaria para reclamar da falta de carinho súbita.

Errei feio.

Em menos de um minuto ela sentou-se na cama, olhou-me risonha, e pulou em cima de mim, quase quebrando um certo detalhe importante de meu corpo, duro de doer àquela altura:

- Delícia acordar desse jeito!! Delícia, delícia, delícia, delícia…

Modesto como sou, não tive outro jeito a não ser responder:

- A gente fazemos o que podemos para agradar as visitas.

Uma hora, ou uma hora e meia, depois ela voltou ao seu quarto, embarcada em sua imensa roupa de dormir, e eu me preparei para o trabalho do dia. Ficara resolvido que compartilharíamos o ventilador até o último dia de sua estada naquela merdinha de cidade, ou cidadezinha de merda. Para felicidade minha.

Quatro dias depois um carro veio buscá-la na porta do hotel e eu cumprimentei a ela e ao homem com quem ela conversava, feliz da vida. Cumprimentei com um aceno de cabeça e apenas de passagem, mas ela me chamou e fez questão de apresentar-me:

- Querido, este é o moço que me emprestou o ventilador. Foi gentilíssimo comigo. Moço, este é meu marido. O pão duro que não me comprou nem um ventiladorzinho de mão, daqueles baratinhos.

Sorri simpaticamente para ele:

- Essas mulheres…Estão sempre com exigência descabidas…Pra que gastar dinheiro com ventilador se sempre aparece alguém solícito, com vontade de ajudar, não é, amigo?

O cara deve ter captado alguma malícia em meu cordial tom de voz. Não olhou na minha cara, entrou no carro, bateu a porta e exigiu pressa da esposa.

Ela embarcou e, por cima da capota, deu-me um discreto adeus , depois apontou o polegar para onde estava o marido, com um gesto bem expressivo.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 11/06/2007
Código do texto: T522773
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