SAIR POR SAIR...

Saímos os dois, no fim da tarde. De minha parte, saí por sair. Precisava respirar, ver gente. Meu dia tinha sido péssimo. Não sabia o que me reservava aquele encontro. Também não tinha condições, pelo menos naquele dia, de colocar ali nenhuma expectativa.

Já havia marcado anteriormente pelo telefone e achei por bem não desmarcar. Se a coisa fosse muito ruim, no mínimo eu tomaria umas cervejas, comeria algo diferente (porque também não havia tido tempo de preparar algo para o jantar) e viria embora. Sexo? Nem passava pela minha cabeça. Não por falso moralismo ou por ser a primeira vez e outros impedimentos do gênero. Meu emocional não me permitiria ir tão longe naquele momento e todo mundo sabe que é a cabeça quem comanda o resto.

De antemão, sabia que o homem não era um primor de formosura. Mas pensando bem, eu também não sou nenhuma Brastemp. Talvez uma outra marca "meia-boca", que não cito aqui, para não desfazer da dita cuja. Mas estava falando do homem. E da saída.

Jamais, se visse tal pessoa pela rua eu ia dar pelo menos uma olhada. Never! Que minhas amigas não me vejam, pois vão pensar que estou no desespero ou que tenho ódio da perseguida! Mas era uma ocasião em que eu não tinha mesmo escolha: ou saía com o elemento ou ficava em casa curtindo minha raiva- decepção-tristeza (ou um misto de tudo isso junto), por ter sonhado demais, quando uma puxada de tapete me fez novamente voltar a terra.

Até tirei os óculos de grau, para que as imperfeições do moço não me saltassem aos olhos. Mania de professora essa coisa de óculos. Mas eu não estava na escola e ali, naquele momento, didática alguma resolveria a minha falta de jeito. Não me sentia à vontade, embora ele fizesse de tudo para me fazer relaxar.

A saida não foi assim tão desagradável. Todo feio tem sua graça e aquele até que era inteligente. Pudera! Se além de feio fosse desprovido de inteligência (prá não dizer burro mesmo), aí sim era pedir prá morrer!

Mas não. Era espirituoso, divertido. Conseguiu me levantar o astral, me fez rir da própria desgraça e quando dei por mim, percebi que havia uma empatia, pelo menos no plano intelectual. Na terceira cerveja o sujeito já estava ficando bonitinho.

Comemos um peixe frito. Aquilo dava uma sede danada. E dá-lhe mais cerveja, até que eu disse chega! Não podia perder o controle, não ali! Pedimos a conta e viemos embora.

Em frente de casa, uns amassos. Que situação! Eu sem clima algum. O homem querendo coisa e a coisa não querendo o homem.

Pensei até que poderia dar um clima se eu fechasse os olhos e imaginasse o Gianechini. Mas eu não conseguiria me enganar tanto assim! Fiz então o tipo: menina-comportada-cansada-querendo dormir. Não funcionou.

Acabei dando uns beijos meio sem graça no moço. Daqueles mornos mesmo. Fiz cara de quem tava prestes a desabar num sono profundo e que o meu despertar seria fatalmente acompanhado de uma tremenda dor de cabeça. Ressaca mesmo. Ele teve dó de mim. Foi embora, prometendo ligar no dia seguinte.

Meu celular anda com problemas e eu não passei o final de semana em casa. Até hoje, o dia seguinte ainda não chegou.