Quem sabe até breve

(parte I)

Ela estava na cozinha quando ouviu aquela voz pedir pelo sanduíche.

O sanduíche escolhido levava o segundo nome de quem solicitou.

Mas ela ainda não sabia quem estava pedindo.

Apenas prestou atenção naquela voz.

Na cozinha, tudo estava a mil por hora.

Eram muitos pedidos a serem atendidos.

Tinha muita louça para lavar. Muita coisa para limpar. Para terminar.

A cabeça dela fervia, mas aquela voz se destacou entre todas as vozes que ecoavam pelo Café.

Não era um Café super movimentado, mas naquela noite muitas pessoas estavam no local.

Com pressa, com fome, cansadas, após um belo espetáculo de teatro, que encerrou um festival. Precisavam viajar de volta às suas casas.

Na cozinha, era ela contra o tempo.

Era ela e a curiosidade de saber de quem era aquela voz que pediu por aquele sanduíche que ela adorava fazer e que tinha muitos na lista de pedidos.

Foi então, que ela precisou sair da cozinha para buscar insumos da horta.

Ela precisou trocar seu posto e ver a “multidão” de rostos desconhecidos lá fora.

Ela não sabia, mas o fato dela sair da cozinha faria ela descobrir de quem era aquela voz que ainda soava docemente em seus ouvidos.

Ela saiu, com pressa e parou.

Parou em frente aos olhos e olhares perdidos intrigantes/intrigados.

Ele estava ali. Em sua frente. Quase na porta de entrada do estabelecimento.

O ser intrigante intrigou-a e era lindo.

Foi tão breve, mas pareceu durar muito tempo.

Ficaram parados um à frente do outro, se olhando curiosamente, até que ela perguntou se podia ajudar.

Na verdade não foi bem assim.

Ela perguntou rapidamente: “E.. pra você?”.

Ele parecia confuso, talvez estive distraído, procurou a resposta, mas era como se tivesse realmente esquecido.

Falou: “É.. eu esqueci o que eu vim fazer”.

E sorriu um sorriso curto, pela metade.

Ela replicou em tom bem humorado, mas completamente nervosa: “Assim não sei se posso ajudar...”

Ele, ainda perdido, pediu por cigarros. Ela disse que não tinha. Ele perguntou se ela fumava, pois era isso que tinha ido fazer, pedir por cigarro. Ela disse que não fumava, quase hesitando. Querendo ficar ali, querendo olhar pra ele. Querendo ouvir a sua voz.

Ela foi saindo, tinha que ir até a horta. Tinha muitos pedidos pra atender, mas ela queria ajudá-lo a encontrar o cigarro, a encontrar o quer que fosse. Ela não tirou os olhos dos olhos dele. Aquele momento seria único, pensou ela. Ele iria partir em breve, lamentou.

Ele perguntou se vendia cigarros ali, ela disse não. Ele perguntou se havia algum lugar próximo para comprar, ela disse que sim.

Explicou, de uma maneira tão nervosa, temendo que ele percebesse, onde poderia encontrar.

Houve uma comunicação com uma terceira pessoa, uma amiga dela. Mas ela estava um pouco perdida enquanto olhava pra ele.

Ele agradeceu e tocou-a no ombro.

Os olhares se distanciando e ela seguindo o plano de chegar à horta.

Foi e voltou para a cozinha.

Mas o pensamento ficou perturbado.

O que era aquilo que tinha acabado de acontecer?

Os pedidos chegando ao fim e ela então estava finalizando as vendas, no caixa.

Gostava dessa parte, ter contato com os clientes.

Atendeu vários, até que então, ele estava ali novamente.

Nessa hora foi que ela teve absoluta certeza que ele era aquela voz. Ele falou sobre a escolha do pedido, da relação com o seu segundo nome, até mostrou o cartão apontando com o dedo o “A.” que constava na identificação.

Ela achou engraçado, sorriu e não conseguia desviar o olhar dos olhos dele, mesmo finalizando a parte burocrática e tendo que se despedir.

E se despediu. E ficou aquela reticência. E ela ficou. E ele partiu.

Taie
Enviado por Taie em 10/06/2015
Reeditado em 10/06/2015
Código do texto: T5272065
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