HOMEM DE PALAVRA

Quem conheceu Juca de Lurdes, teve o prazer de coviver com um verdadeiro gentleman. Uma dessas raridades que a natureza produz e joga a formula fora.

Filosofia própria. Não tinha presa em responder as perguntas a ele dirigida, quando falava, usava um leve sotaque Paulista.

Cinco anos em Sampa amigo. Era o que dizia entre um gole e outro.

Certa vez sendo interrogado, por um amigo, qual o motivo de nunca ter se casado, já com quarenta e seis anos, e solteiro. Juca respondeu:

-Já casei, lembra de Lurdinha? Cabrocha bonita, aonde passava chamava atenção, um belo tail.

Um exemplo de virtude.um anjo de candura, tivesse eu amadurecimento, ainda estávamos juntos.

Deus não coloca duas pessoas juntas em vão.

O homem é quem estraga tudo. Eu e Lurdinha, éramos duas almas em um só corpo. O nosso amor nascia e florescia como a primavera.

-Foram seis anos de puro amor, os dias não eram diferentes, todods iguais, o sol, esse vinha somente pra iluminar nosso amor.

-A lua, há! Essa ficava acanhada, invejava nossa felicidade.

-As estações do ano, vinham somente compartilhar nossa alegria.

-Dezembro, o Pólo Norte ficava muito mais distante do Sol. Os dias e as noites, eram mais longas e frias. Nossos corpos junto, faziam o aquecimento global.

-Tempus Hibernus.

Viva com intensidade, ao lado da pessoa amada, e saberais do que estou falando.

Os inimigos de Juca, eram somente aqueles que invejavam seu refinado português.

Assim vivia Juca, ao sabor da áurea.

Disse certa vez um sábio que aproxima-se o momento em que os filósofos e os imbecis têm um mesmo destino.

Foi constatado certo dia, que Juca estava muito doente. Tuberculose, consultou o medico.

As más linguás, deram logo conta de espalhar,a noticia,

Mais não foi a noticia que o leitor está pensando Não.

-Bem feito, disse Maroca, enquanto derramava um pouco de pinga pro santo..

-Achava-se o tal, comentou firmino.

-Agora eu quero ver, dobrar a língua com tantos "RS". Pigarreou o negro de Zulmira.

Só quem não dizia nada era Luiz Bernado. Um dos homens mais destemido do vilarejo.

Quem mais tinha contribuído para o povoamento do cemitério local.

Luiz, era um desses homens de pouca palavra. Atinha-se aos fatos,. Ouvia.

Tinha o dom de ouvir e o de matar.

O último que tinha mandado para a cidade dos pés juntos, foi um tal de Vicente.

Matei, e mataria de novo. Sujeito daquela laia só serve morto. Pedófilo, estuprador de criança. O inferno é a sua casa. Preste lá ele contas com Satanás.

Luiz,foi o único daquela roda,que se prontificou em ir visitar Juca. Ele e Lurdinha.

Ele ia chegando, enquanto a outra saia.

-Bom dia seu Juca;

O doente demorou a virá-se, conheceu a voz, a principio não acreditou que era o dito cujo. O que faria ele ali, teria ido afim de abreviar seu sofrimento,

Virou-se, olhou para a figura parada à porta, e o recebeu numa saudação arrastada, seja bem vindo.

Entre e sente.

Luiz não temia a morte. Não era um vírus qualquer, que o iria abater, mesmo sendo o bacilo de Koch.

Entrou.

O doente pulou da cama. Nem parecia alguém que a quinze dias estava deitado.

Dizem os mais experientes, que todo moribundo, tem um momento de lucides, antes da morte.

Juca vivia esse momento.

Viva a vida, viva os sábios e os loucos, viva os que pertecem a essa geração de bem aventurados.

Viva eu.

Luiz permanecia imoveu e calado.

Juca, gritava e rodeava a estreita sala. De repente parou. Olhou para o assustado Luiz e falou repentinamente.

Um murro. Isso mesmo, um safanão, um tapa na cara.

Foi nesse exato momento, que o até então, calado Luiz, pulou da cadeira, segurou Juca pela gola e o fez sentar.

O que tu tês homem de Deus? Terais enlouquecido de vês?

Juca olhava para o seu oponente com ar de abestalhado, sua boca estava suja de sangue, seu suor fedia a nicotina e a zinabre.

Sentou ofegante, sem forças.

-Isso mesmo que acabaste de ouvir Luiz, continuo Juca, agora com voz mais firme.

Estais vendo meu estado, sabes que morro. Sim! Meu final é chegado.

Mas não quero ir como vão os desvalidos, aqueles que só tem por companhia o copo, e como abrigo, as tabernas sujas e esquecidas.

Morro! Mais não quero que minha morte seja esquecida.

Hão de visitar minha lapide. Sim. Sei que vão.

E espero, que cada um que olhá-la, pronuncie, aqui jaz: UM HOMEM DE PALAVRA.

Por isso Luiz, diante desse silencio. o silencio que por vezes, é a melhor companhia.

Somente o silencio compartilha da nossa dor, com sinceridade.

E é ele que vai permanecer ao nosso lado após a morte.

Nesse momento os dois homens estavam em pé na sala, frente a frente.

Juca suava, as sua mãos e pernas tremiam. Falava com dificuldade, mais mantinha um tom firme.

Quero lhe propor um negocio Luiz. Talvez seja esse meu ultimo desejo. Sei que você é o tipo de homem que não leva desaforo pra casa.

Sei também que não perdoa seus agressores. A morte vem sem avisar, você não. Seus inimigos sabem disso, disse-me um velho conhecido, que é melhor ser amigo da morte do que ser inimigo seu.

Por esse motivo, caro amigo, deixe que eu lhe der um murro.

Nesse momento Luiz foi de mão na cintura, pegou no cabo da quarenta e cinco, que sempre carregava, e teria puxado, se não fossem os rogos de Juca.

Puxe, atire, der o ultimado a esse homem, que não tem mais esperanças de vida, só de morte. Só assim terei o prazer de ter morrido de tiro, menos desta maldita doença.

Pela primeira vês, Luiz vacilou.

Isso mesmo o que você ouviu, lhe dou um murro, o medico disse que só tenho quinze dias de vida, se nesse tempo eu não morrer, você vem e me mata, se porém, eu tiver morrido, tenho cumprido e feito, o que até agora nenhum outro homem fez.

Depois de pensar por algum tempo, Luiz concordou.

Sim, estar certo, mais trate de morrer na data prevista, O valentão,mal acabou de falar, recebeu um soco no pau da venta, tentou reagir, recebeu outro, esse lhe abriu o sobrecílio, um terceiro murro, jogou-o em cima da porta, espatifando-a, nesse momento já aviam vários expectadores, era uma correria, um acode, Juca vai ser morto.

Uma gravida desmaiou no meio da rua, dois bêbados, faziam aposta.

Luiz levantou-se com dificuldade, o sangue lhe cobria o rosto Juca estava ofegante.

A tuba estarrecida, olhava em silêncio.

Os dois homens, aproximam-se apertam as mãos, Luiz fala baixinho, combinado!

Quinze dias depois, vestindo a sua melhor roupa, enchido a cartucheira de balas, lubrificado, a quarenta e cinco, pensando em uma boa forma de vingança, Luiz vai a casa do condenado.

De longe, o matador, avista o entra e sai na casa do Juca, caminha devagar. Os presentes abrem caminho, uns por respeito outros por medo.

Aproxima-se do caixão, teve a impressão de ter visto Juca sorrindo.

Bateu forte no peito do morto, enquanto dizia baixinho: Vai em paz desgraçado.

Edilson Alves
Enviado por Edilson Alves em 14/06/2015
Código do texto: T5276816
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