QUADRILHA MALUCA

A escola estava toda enfeitada com bandeirinhas coloridas. Era a festa junina tão esperada pelos alunos, pais e professores. Nas barraquinhas, doces, canjica, amendoim e outras guloseimas. Mas antes de saborear as guloseimas vinha o momento da quadrilha. Os alunos estavam ansiosos para começar a dançar. Todos estavam alegres e os pares já começavam a ser formados. Os pais já se encontravam lá na escola para ver seus filhos na quadrilha. Todos estavam alegres, menos o Júlio. O menino ficou sentado na cantina com a cara fechada. A professora viu o menino sozinho e aproximou-se dele. “Júlio, a quadrilha vai começar. Pegue seu chapéu e vá dançar.” O menino ficou calado. “Vamos, vá dançar.” “Não quero dançar.” “Mas como assim? Por que não quer dançar?” Ele não respondeu. “Responda, por que não quer dançar?” “Não quero dançar com a Leandra.” “E por que não quer dançar com a Leandra?” “Porque ela é chata.” “Mas no ensaio vocês se deram tão bem.” “Não, a gente não se deu bem no ensaio.” “O que foi que ela te fez?” “Ela é muito chata, fica falando pra eu dançar assim, pra eu fazer assim, pra eu não pisar no pé dela, pra eu tomar cuidado com o cabelo dela... que saco!” “Não foi isso que vi durante o ensaio.” “É porque você não prestou atenção direito.” “A Leandra é uma boa menina. Só faz isso porque é muito vaidosa.” “Vaidosa não, professora. Ela é chata mesmo.” “Vamos lá, a quadrilha já vai começar." Júlio pegou o chapéu e foi para a festa junina. As crianças estavam se preparando para começar a dança. Júlio aproximou-se de Leandra. Ela olhou para ele e disse: “Olha meu vestido. Minha mãe comprou lá na loja vêtements femmes. É uma loja chique. Minhas roupas são todas compradas na vêtements.” Júlio olhou para ela e disse: “Tá faltando as estampas de flores.” “Eu não vou usar esses vestidos feios de festa junina. Olha lá, parece uma toalha de mesa com aquelas florzinhas... olha aqueles babados de renda... ah, que coisa feia!” “Vestido de festa junina é assim mesmo, sua boba.” “Olha meu sapato. Custou caro. Não se atreva a pisar nele.” “Eu não vou pisar no seu pé.” “É bom mesmo, porque no ensaio você pisou 4 vezes no pé. Ainda bem que eu estava com um sapato mais baratinho.” Faltava poucos minutos para começar a quadrilha. “Por que você não está com o cabelo preso dos 2 lados como as outras meninas.” Leandra respondeu: “O quê??? Esse penteado me deixa ridícula!” “Mas é só pra dançar quadrilha, sua tonta.” “Mesmo assim. Eu fico muito feia com esse penteado. Pra dançar quadrilha não precisa ficar feia.” “Por que não fez uma trança que nem a Amanda e a Lidiane?” “Meu rosto fica muito grande quando uso trança.” A professora passou perto deles e falou: “Assim é que eu gosto. Conversando como bons amigos.” “Por que não usou a maquiagem de festa junina?” “Você quer que eu fique que nem uma palhacinha de circo?” “É maquiagem de festa junina, sua ignorante.” “Olha para as outras meninas e olhe para mim. Vê se meu rosto bonito merece uma maquiagem horrível como essa.” “Por que você não vai para um desfile de moda?” “Aqui nessa escola tem desfile de moda?” “Não.” “Se tivesse eu iria, é claro.” A festa começou. Júlio segurou os braços dela e principiou a dançar. “Nossa, como você é duro pra dançar, parece um soldado marchando.” “E como é então?” “Tem que ser mais leve ao dançar. Olha pra mim, olha como eu sou leve pra dançar.” Júlio ficou sério. “Ai, menino, sorria. Parece que está em um velório. Tem que sorrir, assim ó.” O menino sentia vontade de sumir daquele lugar.

Olha a chuva!! Anarriê! Pula fogueira, iaiá

Os pais batiam palmas, animando as crianças. Leandra disse: “Ai, você está machucando meu braço!” “Desculpa.” “Nossa! Como você é desastrado pra dançar!” Júlio dançava afastado dela. “Dance mais perto de mim. Mas cuidado com o meu pé!”

Olha a cobra!! É mentira!!!

Sem querer, o cabelo de Leandra ficou preso no chapéu que ele usava. Ela gritou: “AAAII! Cuidado com o meu cabelo!!!” Júlio viu que para continuar dançando com Leandra tinha que imaginar que ela fosse de outro jeito. Mas como? Ele fechou os olhos por um instante e começou a ver Leandra como uma garota meiga, dócil e simpática. A sanfona foi se transformando em chocalhos e a música passou a ter um ritmo de salsa. Aqueles gritos foram ficando mais distantes. Leandra apareceu com um vestido florido. Dançava sozinha. Rodava e sorridente aproximava-se lentamente de Júlio. O menino tirou o chapéu e começou a dançar também. Os 2 se aproximavam. No ritmo da música eles ficaram juntinhos. Ele beijou a mão dela. Em seguida começaram a dançar. Dançavam muito. Os cabelos dela voavam com vento. Eles se olhavam, concentrados na dança, nos passos. Dançavam como adultos. Ele mexia as pernas e os braços. A música terminou. Ele disse: “Dance comigo a próxima música.” Ela sorriu e disse que sim. A outra música começou a tocar e eles dançavam coladinhos.

'Não tenho nada para dizer. Apenas quero te beijar, te beijar, te beijar.'

Ela rodava e gingava o corpo para que Júlio a girasse no ritmo da música. Dançavam muito. Ela rodava quando o refrão era cantado.

'Não tenho nada para dizer. Apenas quero te beijar, te beijar, te beijar.'

Chegaram a encenar a música. Ele fingiu que ia embora e ela foi atrás dele. Leandra segurou o braço dele.

'Não tenho nada para dizer. Apenas quero te beijar, te beijar, te beijar.'

Assim que a música acabou ele apanhou uma rosa no chão e entregou-a a Leandra. Ela pegou a rosa, sorriu e deu um beijo no rosto dele. Em seguida, ele ouviu um grito: “Ei! Acorda Júlio!” Leandra olhava para ele com cara de raiva. Todo mundo ria dele. A professora disse: “O que aconteceu com você, Júlio.” Leandra, enfurecida: “Você ficou louco?” “Não, eu...” “Dançou tudo errado, fez tudo errado.” Ele não sabia o que dizer. “Você achou que era salsa?” “Não.” “Como não? Você dançou salsa, misturada com axé, com lambada, sei lá... ainda queria que eu rodasse que nem uma baiana de escola de samba... que menino doido!!! Eu quero ir embora!! Mãe, pai, eu quero ir embora!!” A professora interveio. “Júlio. O que aconteceu? Por que dançou daquela maneira?” “Ah, professora, eu imaginei umas danças diferentes.” “Mas isso é uma quadrilha! Você tinha que dançar quadrilha!” “Desculpa, professora.” Ele foi correndo atrás de Leandra, antes que ela fosse embora. A menina estava com uma cara de choro e os pais dela consolavam-na. Júlio chegou perto dela. “Sai, daqui! Menino doido!” “Calma, filha.” Disse o pai dela. Júlio disse: “Desculpa.” “Não te desculpo.” O pai dela falou: “Ele está te pedindo desculpa. Aceite o pedido desculpa.” “Não. Não vou aceitar. Não quero mais ver esse menino maluco. Vamos embora!” Júlio falou: “Espere!” Ela olhou para ele. Júlio disse: “Não foi tão ruim assim. Pelo menos eu não pisei no seu pé.” Leandra saiu correndo, chorando. O pai e a mãe dela foram atrás, tentando consolá-la.

Alveres
Enviado por Alveres em 24/06/2015
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