A conspiração

Sou negra como a noite. Para uns sou feia e minha cor representa luto, tristeza. Para mim, a minha cor é linda, não tem essa de cor do pecado... Cor preta, negra, escura. Nada de marronzinha. Sou Pretinha! E daí?

Aceito a comparação da minha cor com a noite. Tem algo mais espetacular do que uma noite estrelada? Uma noite de luar? Uma noite de amor? Ah, me comparar com a noite é um elogio e tanto. Agora me chamar de macaca... isso eu não aceito! Viro bicho!

Certo dia fui ao mercado comprar algumas frutas para minha mãe. Depois de enfrentar uma fila enorme, ao passar pelo caixa, uma pessoa branquinha atrás de mim, ao olhar para minha cestinha que deixei no chão, disse debochando:

_ Faltaram as bananas!

Fingi que não ouvi, fiz pose de artista, mesmo com uma sonora gargalhada me acompanhando. Olhei e percebi de onde partira a ofensa. Não! Não valia a pena responder. Sair rapidinho daquele lugar, pois sabia que a minha beleza negra incomodava. A vida conspira contra nós.

De novo, dessa vez o guarda de segurança, negro igual a mim, grita:

_ Ei, e as bananas?!

Virei, achei um desaforo ouvir aquela agressão até de pessoas da mesma cor... Fiz aquele gesto universal. Não queriam bananas... Então, tome! Descarreguei toda a minha revolta contra os conspiradores. Sorriram a valer do meu gesto, mas sair de nariz empinado. Alma lavada.

Em casa ao falar sobre o ocorrido para minha mãe, ela sorriu triste e disse que eu não precisava revidar a discriminação, pois não era assim que se combatia o preconceito racial. O meu gesto a deixara triste, pois ela dissera que a careta é feia para quem faz. E foi arrumar as compras enquanto eu caminhava para o meu quarto, já meio arrependida da minha atitude... Ah, quem mandou me ofender? De repente:

_PRETINHA, CADÊ AS BANANAS?!

Reflexão: Quando enxergamos conspiração em tudo, até um gesto de gentileza soa ofensivo.

Abraço baiano,

Elisabeth Amorim/2014

(www.toquepoetico.wordpress.com)