CENA DE BAR

Entrou no bar vazio. Sentou-se de costas para a parede. Um velho hábito dos tempos de guerra. Pediu um chope. Acendeu um cigarro. Não esquentou para o “proibido fumar”: “Que se dane”.

Sentia-se só e desesperado. Se pudesse, explodiria. Deu o primeiro gole e uma baforada. Fitou as argolas de fumaça sendo sugadas pelo ar condicionado. Seus olhos viam além das paredes.Viam longe. Muito longe. Tanta coisa!

A porta se abriu.

Ela entrou. Apenas uma mulher. Passou diante dele e sentou-se à sua frente, algumas fileiras depois. Pediu um chope. Foi servida. Pôs uma pitada de sal na borda do copo. Levou-o aos lábios. Um pequeno gole. Sentia-se no ar o seu prazer. Depois suspirou. Outro gole. E depois outro.E depois mais outro. Uma abelha sugando a flor.

Abriu uma cigarreira, bateu o cigarro suavemente, como se fazia no tempo em que os cigarros não tinham filtro. Ele deduziu que ela adquirira aquele hábito vendo filmes antigos, quando fumar traduzia glamour. Ela pediu ao garçom um cinzeiro. Este, contrafeito, acedeu. O outro freguês já quebrara as regras mesmo...

Ele sentiu algo de aconchegante no arfar dos seus seios. Imaginou coisas. Ela deu

mais uma baforada.E, depois, mais um pequeno gole de chope.

Bateu com delicadeza a cinza. Apagou o cigarro sem a menor pressa. Pediu a conta. Tomou o último gole. Pagou. Levantou-se.

Olhou-o nos olhos. Um olhar, de um azul cristalino, nem alegre, nem triste. Nele havia o mundo. Tudo o que há no mundo. E toda a solidão.

Seus olhares se encontraram no mais absoluto silêncio. Apenas por um momneto.

Ela levantou-se. Saiu.

Ele sorveu o chope até esvaziar o copo. Olhou para o garçom. Frio, disse: ”Perdeu. Passa a grana toda que tem aí.”

.