848-FILME PORNOGRÁFICO PARA ADOLESCENTES -

FILME PRONOGRÁFICO PARA ADOLESCENTES

Tarde de sábado de um verão implacável. Lá fora, o sol de rachar. O calor convidava à preguiça, a nada fazer, ao fazer nada, ao dolce far niente.

Na grande sala de estar, três adolescentes sentados no chão ou semi-deitados sobre almofadas, jogavam conversa fora.

— Liga a TV. — pediu Dê ao Alex.

— Num tem nada que presta.

Preguiça.

Tempo em que não havia ainda os I-Pad, I-Ped, I-Pid, I-Pod nem I-Pud. Nem Internet, nem Facebook e outras maneiras de passar o tempo idiotamente.

Tempo em que as pessoas tinham tempo para curtir preguiça, sem nada prá fazer.

Eram três jovens, quase da mesma idade, entre 14 e 16 anos. Alex e Dê, irmãos, e Nadia, amiga, colega de colégio.

— E se a gente visse um filme pornográfico? — Sugeriu Nadia.

— Cê endoidou, Nadia? Como é que a gente iria pegar um filme pornográfico? A locadora só aluga filmes pornôs para adultos, explicou Alex.

Como que brincando com a idéia, Dê falou:

—A gente podia pedir prá mamãe alugar prá nós.

— Agora sim, deu a louca em vocês duas.

— Vamos experimentar? Disse Nadia. — A madrinha é muito compreensiva e...

— Não custa tentar, disse Dê.

Alex não quis ir com as duas pedir à mãe que alugasse um filme “avançado”. Mas ouviu o diálogo, na copa, onde dona Claudia, mãe de Dê e Alex e madrinha de Nadia, lia um romance.

— Madrinha, a gente queria pedir uma coisa prá senhora... — iniciou Nadia

— Mas a gente ta com vergonha... – concluiu Dê;

Dona Claudia, sempre atenciosa e aberta às conversas com os filhos e seus amigos, fechou o livro e abriu um sorriso empático.

— Podem falar. O que é?

— A gente queria ver um filme... um filme “daqueles”... sabe?

— Filme "daqueles"? Como assim? Não estou entendendo.

—Ara, mãe, daqueles que só gente adulta pode ver.

—Ah! Entendi. Vocês estão falando de filme pornográfico?

E abriu um novo sorriso, agora até com um ar de malícia.

Ao ouvirem as palavras ditas por dona Cláudia as meninas se entusiasmaram, pois notaram que ela estava receptiva.

— É, a gente nunca viu, e queria ver.

— A “gente”... quem?

— Eu, a Nadia e o Alex. Mas não podemos alugar o filme. Será que a senhora podia...?

Para surpresa das duas mocinhas, dona Cláudia se levanta e diz:

— Sim, posso alugar um filme para vocês. Mas antes vamos fazer um combinado.

— Oba! Disseram as duas. Em uníssono.

— Chamem o Alex, para a gente combinar tudo direitinho. Tenho uma condição.

Denise gritou ao irmão, chamando Alex que logo apareceu, pois escutava a conversa atrás da porta.

Dona Claudia disse:

— Vou alugar o filme prá vocês, sim. E vocês vão assisti-lo inteirinho, bem quietinhos, prá não alertar seu pai.

—Ora, ele está lendo no escritório, nem vai ouvir.

—Vocês prometem, então? Bem quietinhos, do começo ao fim. Só saem da sala depois que o filme terminar.

— Sim, tá combinado — concordaram o três.

Dona Claudia saiu e em vinte minutos voltou com um filme. Um filme de VHC, que vinha num estojo preto.

Encontrou os três ansiosos, sentados nãos sofás da sala.

Ela ligou o player e colocou a fita no aparelho. Ligou a TV e antes de ligar o aparelho, insistiu nas condições:

— Lembrem-se do trato: fiquem bem quietinhos, nada de barulhos estranhos, e assistam até o fim. Não saiam da sala de jeito nenhum. Prometem?

— É, nós ficamos bem quietinhos, sim. — As adolescentes disseram:

— E vamos assistir até o fim, claro. — Alex já estava mais a vontade.

Ela ligou então o player e saiu incontinenti da sala.

As duas mocinhas e o rapazinho estavam tensos, aguardando as cenas de pornografia. Após os créditos, iniciou uma musica suave, romântica, e até meio que religiosa.

Os jovens ficaram cada vez mais tensos. Algumas cenas antecederam o próprio título do filme, de forma que eles estavam com a atenção máxima, aguardando que àquelas cenas que nada tinham de pornográfica, se sucedessem às que desejavam ver.

Quando apareceu o nome do filme, a surpresa estampou nos olhos de todos.

Entreolharam-se.

Deram-se conta, no ato, do logro em que haviam caído. Alex foi o que primeiro reagiu, levantando-se:

— Não vou assistir essa “coisa”, não.

Denise disse, com energia:

— Lembra do que prometeu? Agora vamos ter que assistir, sim, a este filme até o fim.

Os três jovens tinham todos, um sentido estrito à palavra dada e ao cumprimento de promessa feita. Ficaram na sala, assistindo, até a última cena, o filme “IRMÃO SOL, IRMÃ LUA” .

ANTONIO ROQUE GOBBO

BeloHorizonte, 12 de julho de 2014

Conto # 848 da Série Milistórias

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 06/08/2015
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